RELATO DA
REUNIÃO DA CONGREGAÇÃO REALIZADA NO DIA 27/08/04, NA QUAL FOI REJEITADA A
PARIDADE PARA ELEIÇÃO DE DIRETOR E VICE-DIRETOR.
Nesse mês, agosto, foi chamada uma Congregação Extraordinária para, principalmente, discutir sobre a reposição de aulas e definir um novo calendário de atividades para a FCL. Nessa reunião também foi indicada uma Comissão Eleitoral para fazer as normas para a “consulta”, ou eleição, de diretor e vice da Faculdade, a se realizar em outubro desse ano. Essa Comissão foi composta de forma paritária, foram indicados 5 professores, 5 alunos e 5 funcionários. Bom, eu fiz parte dessa Comissão, a gente se reuniu uma única vez, mas foi produtivo, conseguimos aprovar as normas para a eleição com modificações bastante significativas. A mais polêmica delas foi a consulta paritária entre os três segmentos, o que isso quer dizer? Quer dizer que a última eleição (há 4 anos atrás) foi feita nos moldes estabelecidos pelo Estatuto da Unesp, que simplesmente adequou-se à LDB (Lei de Diretrizes e Bases), e diz que o peso dos votos dos professores é de 70%, o dos funcionários é de 15%, e o dos alunos é de 15%. Isso quer dizer que não existe paridade, que o voto de um professor vale muitas vezes mais do que o meu (aluna), por exemplo. Será que isso é democrático, em que medida? Foi esse questionamento que fizemos na Comissão, e enfim, conseguimos incluir um artigo que tornava a eleição paritária (o que já foi uma grande vitória!). Porém, uma semana depois, na reunião ordinária da Congregação, a proposta da Comissão foi vetada. Com apenas uma rodada de discussões, os professores encerraram a questão votando nominalmente CONTRA a nossa proposta. Apenas duas professoras votaram a favor, e faço questão de citar os nomes: Prof. Maria Orlanda (Dept. Sociologia) e Prof. Maria Júlia (Dept. Psicologia da Educação), além dos 3 representantes de funcionários e dos nossos 3 representantes. Eu fiquei realmente decepcionada com a forma que os professores (nossos professores!) trataram essa questão. Sabe os argumentos que utilizaram? Pérolas como:
1) “Se está na LDB, porque estamos discutindo? É perda de tempo, não vamos mudar nada.”
Mas, então, porque eles aprovaram a modificação de um artigo (que pede a inscrição de candidatos por chapa e não mais uninominalmente) passando por cima do Estatuto da Unesp? Será que seguir as leis num caso deve ser determinante e em outros não, por que? Ou será que é assim, eu flexibilizo as leis que me interessam, as outras não, claro.
E ainda, por que não olhar ao redor e perceber que diversas universidades (particulares E públicas) já estão adotando as eleições paritárias pelo Brasil a fora. Que as leis são feitas, também, para serem discutidas e reformuladas sim, não podemos ficar petrificados diante de leis que consideramos injustas, ou arbitrárias. Poderíamos ter optado por criar um fato político, e quem fosse contra (quem seria contra a democratização das eleições?) que entrasse legalmente contra a Faculdade. Poderíamos ter corrido esse risco, em nome de uma luta por democratização da universidade. Mas não, pra quê? Os nossos professores estão, confortavelmente, sentados em 70% das cadeiras de todos os órgãos colegiados da instituição e nem ao menos estão dispostos à uma segunda rodada de discussões!!
2) “Eu acredito na meritocracia.”
Bom, então não mintam para nós, em suas magníficas aulas, afirmando “a democracia acima de tudo”, isso é hipocrisia! Não estávamos discutindo a respeito dos pré-requisitos para o candidato ao cargo de diretor e vice da faculdade, pois concordamos que devam ser docentes, com titulação, etc. Podemos chamar a isso de “mérito”? Talvez, e então o tal “mérito” já tem o seu lugar garantido quando se pensa em quem deve exercer o próprio cargo de diretor ou vice. Por exemplo, no Brasil, para se candidatar a vereador, prefeito, etc, é pré-requisito saber ler e escrever, certo? Mas na hora de votar tanto faz eu ser um professor doutor ou um analfabeto, o peso do voto é exatamente o mesmo. E é disso que estamos falando, do voto, não dos pré-requisitos para o cargo. Mas os nossos professores parecem não conseguir distinguir uma coisa da outra. A tal “meritocracia” vira, assim, uma “ditadura”, onde os professores decidem sozinhos os rumos da universidade. E estão respaldados pela LDB e pelo Estatuto da Unesp!
Sai, realmente, triste da última reunião da Congregação
e prometi, a mim mesma, que divulgaria o ocorrido à todos os alunos que
pudesse. Essa luta pela paridade nas eleições para cargos dentro da
universidade já existe há muito tempo. Os funcionários também se mobilizam,
dessa vez escreveram uma carta à Congregação que nos fez arrepiar e nos
colocar no lugar deles. É justo eu trabalhar a vida toda numa instituição pública
e ter apenas 15% de peso nas eleições? Eles foram em massa à reunião,
distribuíram adesivos “PARIDADE JÄ! 1/3, 1/3, 1/3”, e via-se, nos olhares,
uma esperança quase romântica de que as coisas pudessem mudar. Os professores
elogiaram a carta por eles escrita, e depois, claro, votaram CONTRA A PARIDADE!
Eu me retiro da Comissão que iria trabalhar nas eleições,
e essa sim é paritária(!), que ficaria os 3 dias como mesários, fazendo atas,
organizando listas, contando os votos, etc. Se o meu voto não é paritário, os
meus braços também não são. Aconselho aos outros alunos e funcionários a
fazerem o mesmo. Os professores que fiquem trabalhando por essa eleição que
eles, sozinhos, decidiram as normas. A Comissão, no final, não adiantou de
nada, os moldes continuam os mesmos, a hipocrisia continua a imperar dentro da
universidade. Só que a gente cansa mas não desiste, disso eles precisam ter
certeza, A LUTA CONTINUA!!!
Saudações estudantis,
Patrícia Rodrigues
(Pedagogia)