TECENDO A MANHÃ

  

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

 

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

Se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

 

            O poema “Tecendo a manhã” foi escrito na década de 1960 por um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos: João Cabral de Melo Neto. Como todo texto literário, expressa de maneira metafórica, figurada, os sentimentos mais profundos e as experiências mais intensas do homem, de qualquer tempo e de qualquer lugar.

É de solidariedade, de compromisso e também de sonho – por que não? - que ele fala. E toda solidariedade, todo compromisso e todo sonho genuínos promovem a ação, ancoram-se no trabalho e na construção efetiva de uma nova manhã – esta de que o poema também nos fala e que abrigará, como uma tenda “onde entrem todos”, os anseios legítimos daqueles que acreditam numa sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana.

É inevitável, assim, que a grandeza do poema e daquilo que ele diz nos venha sempre à mente, e ao coração, quando queremos agradecer – especialmente  quando o motivo da gratidão é saber que não estamos sozinhos naquilo em que ousamos acreditar  e que nos empenhamos em fazer.

Por isso é que, nessa nossa última mensagem dirigida a toda a comunidade da FCL antes do turno final das eleições para a direção, fazemos questão de enfatizar nosso agradecimento: 

·        aos estudantes, pois é deles que vem o sentido da nossa profissão e é para eles que deve voltar, sempre, todo o esforço de aprimoramento não só do nosso saber, mas especialmente do nosso ser; há um mundo urgente lá fora, ansioso pelas respostas que nossos jovens poderão dar a ele ao final de sua formação acadêmica; esta responsabilidade que partilhamos é, certamente, o que faz de todos nós, professores, incorrigíveis idealistas, sempre a incentivar  aqueles que vêm depois de nós e a acreditar que  irão mais longe e voarão mais alto: “luz balão”;

·        aos funcionários da FCL, pois o carinho e o respeito com que fomos acolhidos em cada uma de nossas visitas  e a oportunidade que tivemos de conhecer cada um, cada tarefa realizada, cada projeto e cada dificuldade foi, certamente, o que de melhor todo esse período de campanha eleitoral nos concedeu; procuramos manifestar o mesmo respeito e carinho ao devolver, depois de cada visita feita, um relatório, por escrito, para todos, a fim de que fosse revisto, rediscutido e reelaborado, formando, assim, um precioso arquivo – o “tecido” que tecemos juntos  e que tomará corpo e forma no plano de gestão que elaboraremos como nossa primeira tarefa como diretores eleitos; esse plano, necessariamente, terá que comportar metas e prioridades (definidas também conjuntamente), orçamento, planejamento de ações para a captação de recursos e estratégias de execução; sem esse detalhamento e sem esse comprometimento,  qualquer projeto de gestão para a FCL não pode ter segurança e arrisca-se seriamente a desandar em um conjunto de promessas vazias;

·        aos nossos colegas e amigos, professores da FCL, por terem acolhido com respeito e mesmo com entusiasmo a nossa candidatura; todos sabem o desafio que representa estar à frente de uma instituição universitária como a nossa; queremos estar à altura do que essa tarefa nos exigirá. Já recebemos muito da FCL; e é aqui que podemos, todos juntos, fazer cruzarem-se os “fios de sol” que dão sentido ao que propomos realizar durante os próximos quatro anos. É, pois, um voto de confiança que também pedimos.

 

Solidariedade, compromisso, sonho, trabalho, confiança, projetos compartilhados: que as palavras do poeta nos acompanhem diuturnamente, inspirando e orientando nossas ações.

 

Um grande abraço a todos e, uma vez mais (e sempre): muito obrigado.

 

Sérgio Fonseca e Márcia Gobbi