Reitor
Discurso de Posse
Transcrição na íntegra da fala do professor
Macari em 15 de janeiro de 2005

Agradecemos a Deus pela vida, e pelo fato de estarmos todos aqui reunidos para esta cerimônia de posse, à comunidade da UNESP pela escolha de nossos nomes quando do processo eleitoral, tendo como base de campanha a proposta “UNESP DE QUALIDADE”, ao Exmo. Governador Geraldo Alckmin, que no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, me telefonou dando o presente natalino antecipado, ou seja, nossa nomeação para reitor e vice-reitor da Unesp, para o mandato 2005-2008.

A universidade no mundo contemporâneo tem sido submetida a grandes desafios. No Brasil, até o início da década de 70, havia aproximadamente 500 mil alunos em cursos superiores, sendo a maioria em Universidades Públicas. Passados 30 anos, o número de jovens matriculados nas universidades aproxima-se dos 4 milhões, sendo que grande parte deles está inserida nas universidades privadas. De acordo com os planos governamentais, há necessidade de se ampliarem as vagas nas universidades, a fim de se colocar o Brasil em melhores condições de desenvolvimento socioeconômico, com maior inclusão social. Todos os esforços para aumentar o número de vagas são válidos e devem ser elogiados, desde que haja preservação da qualidade de formação. Não pode a universidade ser uma mera distribuidora de diplomas; deve, isso sim, preservar a qualidade de formação dos alunos nas diferentes áreas do saber para garantirmos o desenvolvimento nacional.

As três Universidades Estaduais, UNESP, Unicamp e USP, as Federais (Unifesp e UFSCar), a PUC, o ITA desempenharam nesses últimos anos um papel relevante, não só para o Estado de São Paulo, mas para todo o Brasil (e poderíamos incluir, também, alguns países latino-americanos), pois elas foram, e estão sendo, as responsáveis pela formação de quase 50% de todos os mestres e doutores titulados no País. Assim, nossas Universidades formaram, e formam, docentes e pesquisadores para atuar nas Universidades Brasileiras, bem como em institutos de pesquisa. Por isso, dentre tantos desafios que foram encontrados pelas Universidades deste Estado, acredito que as mesmas cumpriram, e estão cumprindo, com grande determinação seu papel, pois em que pese não terem feito grande expansão de vagas na graduação, o fizeram na pós-graduação, e com isso propiciaram melhor desenvolvimento no âmbito nacional, formando mestres e doutores para os diferentes recantos deste País. Apesar, ainda, de a distribuição geográfica dos programas de pós-graduação não ser adequada, com a atuação da Capes, a situação caminha a passos largos para uma solução nacional, e a participação das Universidades Públicas do Estado de São Paulo será ainda crucial para se atingirem as metas nacionais.

Dessa forma, a expansão da graduação depende de recursos humanos titulados e capazes, a fim de que a Universidade seja formadora do cidadão qualificado e com compromisso social. Por isso, todas as críticas dirigidas às Universidades Públicas devem ser analisadas com cautela, pois as mesmas, em seu tempo, desempenharam, e desempenham, papel fundamental para o desenvolvimento do Estado e do País. Há, sim, necessidade de que o Governo Federal faça maiores investimentos no ensino superior do Estado de São Paulo, com a criação de outras Universidades Federais, e com isso viabilize o acesso da juventude aos bancos universitários.

A maior parte do conhecimento científico gerado neste País está na dependência das Universidades Públicas, sendo que estudo internacional baseado em indicadores acadêmicos coloca as três estaduais paulistas entre as 500 mais importantes universidades do mundo, tendo sido citadas apenas quatro universidades brasileiras. Há, contudo, necessidade de melhor aproveitar esse conhecimento, aplicando-o dentro do contexto da evolução da cultura, das artes, da educação, do desenvolvimento tecnológico, da inovação, pois somente dessa forma o saber gerado contribuirá para o desenvolvimento nacional.

Esse sucesso somente pôde ser alcançado devido à importância que nosso Governador e a Assembléia Legislativa têm dado à educação e à pesquisa no Estado de São Paulo. Assim, com os recursos liberados, mensalmente e sem atrasos, para as Universidades e para a Fapesp tem sido possível conduzir o sistema de ensino e pesquisa neste Estado. Nos últimos anos, esse investimento tem sido, também, e corretamente, aplicado no desenvolvimento tecnológico e na inovação, especialmente por meio dos programas da Fapesp, os quais permitem forte parceria entre as Universidades e o setor produtivo. Aporte de recursos do CNPq, Finep, por meio de bolsas e auxílios, tem, também, muito auxiliado nesse processo.

No entanto, os recursos para a evolução qualitativa e quantitativa das Universidades podem, e devem, sempre que possível, ser aumentados, pois a demanda para novas vagas e por mais conhecimento faz parte do processo natural de crescimento e desenvolvimento do Estado. Nosso entendimento é que o investimento na formação de recursos humanos é, e sempre será, a forma de se construir o maior patrimônio de uma Nação. Vale a pena salientar, como exemplo, que comissão de especialistas do governo alemão recentemente chegou à conclusão de que o maior repasse de recursos da história contemporânea (US$ 1,5 trilhão), ocorrido após a queda do muro de Berlim, da antiga Alemanha ocidental para a região da antiga Alemanha oriental, não foi capaz de desenvolver esta última, pois foi investimento demais em infra-estrutura, e investimento de menos em pessoas.

A UNESP

Tenho a honra de pertencer à geração que deu início à construção da UNESP. Comecei minhas atividades nos idos de 1974, na antiga Faculdade de Agronomia “Dr. Antonio Ruette”, em Jaboticabal, Faculdade isolada pertencente ao Ensino Superior Público do Estado, como Auxiliar de Ensino. Após 30 anos, aqui estou para conduzir, juntamente com o Prof. Herman, vice-reitor, os colegiados e toda a comunidade de nossa UNESP, o destino da mesma nesses próximos quatro anos. Missão um tanto desafiadora.

Vale a pena salientar que a UNESP é uma Universidade sui generis, com sua estrutura multicampus. Tenho-a definido como uma Universidade Federativa. A força motriz da UNESP não está apenas dentro de si mesma; forças externas também interagem, sendo que a mais importante delas é aquela relacionada com o desenvolvimento das diferentes regiões do Estado de São Paulo. Nos últimos anos, a UNESP não apenas tem estado na dependência do desenvolvimento regional, mas tem atuado, também, para que o desenvolvimento das diferentes regiões possa ocorrer de forma mais harmônica. Tem, portanto, grande papel estratégico para o Estado.

Cada uma de nossas Unidades Universitárias, de forma legítima, quer transformar-se em uma miniuniversidade, com o aumento do número de cursos, aumento do número de alunos de graduação, aumento do número de programas de pós-graduação e de alunos, melhoria da infra-estrutura de pesquisa, maior interação com a comunidade local e regional por meio da necessária, e tão relevante, extensão universitária. Apesar de toda a expansão ocorrida nesses anos, existe demanda para a criação de mais 13 cursos de graduação nas diferentes Unidades Universitárias, bem como proposta de incorporação da Faculdade de Medicina de Marília.

A UNESP, nesses seus 28 anos de existência, está próxima de atingir os 30 mil alunos em cursos de graduação, e 10 mil alunos em seus programas de pós-graduação. Em 2004, foram titulados ao redor de 4 mil alunos na graduação e 2.100 na pós-graduação.

Nossa proposta de UNESP DE QUALIDADE foi preparada dentro do contexto de valorização das atividades acadêmicas institucionais, com base em dois pilares: forte planejamento institucional e investimento em recursos humanos.

A comunidade da UNESP, pela sua manifestação nas urnas, evidenciou anseio de dar um novo sentido à gestão da Instituição. Sendo a mesma colegiada, e federativa, todo processo decisório deve ter caráter co-participativo, pois as demandas para desenvolvimento são muito fortes. Assim, as diretrizes básicas da gestão a serem adotadas estão voltadas para a ética, o cumprimento do planejamento institucional (discutido e aprovado nos colegiados), as decisões não corporativas, a exigência de dedicação e desempenho acadêmico compatível com o regime de trabalho, tudo isso dentro dos limites legais.

Deverão fazer parte do cotidiano da Universidade a discussão de ações para o avanço institucional, a valorização do esforço docente, discente e técnico-administrativo, a concepção de programas de incentivo à formação profissional, o diálogo com os alunos, com as agências de fomento estaduais e federais, com as Secretaria de Estado e Ministérios, a elaboração de propostas que possam contribuir para o avanço cultural, das artes, da ciência, da tecnologia e da inovação em nosso Estado, das relevantes parcerias públicas e mesmo privadas de interesse da UNESP e da sociedade paulista, a criação de parcerias interinstitucionais nacionais e internacionais altamente relevantes para a integração de todo o sistema de ensino e pesquisa do Estado e da Nação. Quanto às parcerias, destaco que, na minha passagem pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, um dos marcos relevantes foi a criação do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, envolvendo a PUC-SP, a Unicamp e a UNESP, com o curso de Mestrado, e posteriormente com o Curso de Especialização em Negociações Econômicas Internacionais.

A autonomia universitária não nos dá o direito de pensar que estamos fora do contexto das políticas do Governo do Estado, e nem mesmo da sociedade paulista, pois a UNESP é uma autarquia pública. Temos, sim, de ter a liberdade de expressão, de pensamento, para produzir o saber fundamental, para procurar conhecer os fenômenos da natureza, mas sempre preocupados com o desenvolvimento da nossa sociedade. A cultura da cidadania para com nossos alunos deve ser uma constante.

A UNESP, em sua curta história, teve três momentos de expansão da graduação: incorporação da Universidade de Bauru (década de 80); expansão silenciosa (década de 90) e a expansão recente, com fortes discussões no âmbito da Instituição. Como já salientamos, a UNESP é federativa, e o anseio ao crescimento é legítimo, tendo em vista as demandas das Faculdades e Institutos das diferentes regiões do Estado. A autonomia universitária nos permitiu tomar essas decisões; por isso, entendo que a UNESP tem sido exemplar na aplicação dessa prerrogativa constitucional, bem como no uso da autonomia de gestão financeira dada às Universidades Estaduais, desde 1989.

Existem problemas devido à expansão? Sim, e não são poucos. Receberemos a Universidade com sérios problemas orçamentários e financeiros. As necessidades de contratação de pessoal e de investimento em infra-estrutura para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa, aliadas à demanda do custeio para as Unidades, são inerentes ao processo de crescimento. Existe também a variável das aposentadorias recentes em função da mudança da lei, gerando vagas que deverão ser preenchidas. Há necessidade de se esclarecer a situação orçamentária e financeira para a comunidade e de se implantar o adequado planejamento para atender a todas essas demandas. Não temos a ilusão de conseguir resolver todos os problemas no primeiro ano de gestão, mas esperamos que haja compreensão e forte participação da comunidade no processo organizacional da Universidade para que, com esforço e dedicação, possamos consolidar, com qualidade, todos os cursos novos da UNESP. Fiquem certos de que faremos todo empenho para que as demandas emergenciais relativas aos cursos novos nas nossas Unidades tradicionais sejam atendidas.

No contexto da parceria pública UNESP / Estado / Municípios – sistema inédito no País para viabilizar aumento de vagas no ensino superior público –, entendo que algumas prefeituras necessitam adequar a infra-estrutura das Unidades Diferenciadas para melhor atender aos alunos de nossa Universidade.

O que se espera também no contexto da Universidade é uma maior integração entre os docentes das diferentes Unidades. Para tanto, estaremos propondo um sistema de mobilidade docente, a fim de que os mesmos possam interagir no âmbito das disciplinas dos cursos de graduação, fato esse que já ocorre nos programas de pós-graduação e na pesquisa.

Ações na Graduação

A auto-avaliação dos cursos de graduação se faz necessária, com procedimentos que envolvem os docentes e discentes dos conselhos de cursos, chefes de departamentos, presidentes de comissão de ensino e dos grupos de avaliação local.

Preocupa-nos o atual nível de inclusão social nos cursos de graduação da UNESP, em que pese o fato de mais de 40% dos jovens matriculados em nossos cursos serem egressos da rede pública. Nossa Universidade ainda não colocou em pauta esse assunto. Entendo, no entanto, que programas de inclusão devam vir acompanhados de ações que assegurem a sobrevivência do aluno durante o curso, a fim de não se criar falsa expectativa. Da mesma forma, devemos apoiar os projetos que viabilizem a maior interação com o Ensino Fundamental e Médio. A UNESP tem nos cursos de licenciatura uma de suas maiores forças, e atenção especial deverá ser dada a esses cursos, pois não adianta criticar o Ensino Fundamental e Médio se a universidade não formar professores capazes para atuar nesses níveis.

Ações na Pós-Graduação e Pesquisa

O sistema de pós-graduação da UNESP teve um bom desempenho no triênio 2001-2004. Entendemos, no entanto, que precisamos buscar maior excelência em nossos programas. Assim, a continuidade dos processos de auto-avaliação é condição necessária para a concretização desse objetivo. Os programas de incentivo aos docentes para captação de recursos extra-orçamentários, bem como para inserção da produção intelectual no cenário internacional deverão ser resgatados. O incentivo à publicação em livros das melhores teses e dissertações da área de artes e humanidades, pela Editora UNESP, bem como o programa de publicação de livros-texto, deverão ser mantidos como estímulo aos nossos alunos e docentes.

A Extensão Universitária

A UNESP precisa contribuir de forma mais abrangente e articulada para o desenvolvimento das regiões em que se situam seus campi. Vamos nos empenhar para fazer chegar às comunidades dessas regiões conhecimentos que as ajudem tanto na promoção do desenvolvimento de condições materiais e culturais de seus concidadãos como, em especial, na conquista da justiça social. Isso sem perder de vista que as ações de extensão da Universidade deverão ser legitimadas, sempre, pela criação de novas e diversificadas condições formadoras para os nossos alunos.

UNESP e Cruesp

Entendemos que as ações inerentes ao desenvolvimento do ensino superior público do Estado devam estar em sintonia com os anseios da sociedade e corresponder às metas do governo para o setor. Neste sentido, destacamos a importância do Conselho de Reitores (Cruesp), que aliado à Secretaria de Ciência e Tecnologia, Turismo e Desenvolvimento Econômico deve gerar propostas que, harmonicamente, irão contribuir para esse processo.

Equipe de trabalho

No mundo contemporâneo, houve uma grande transformação no que concerne à participação da mulher no mercado de trabalho, com sua forte dedicação, competência e austeridade no trato da coisa pública. Nas universidades brasileiras, tenho forte convicção de que as mulheres representam a maioria, entre os docentes, funcionários e alunos. Assim, nada mais justo que a nossa equipe para esses próximos quatro anos conte com forte presença feminina, e tenho certeza de que a capacidade de trabalho sempre demonstrada por essas colegas será muito importante para continuarmos construindo nossa UNESP.

Ao amigo Herman, vice-reitor eleito, quero dizer que admiro muito seu caráter, sua dedicação, sua lealdade, seu conhecimento e visão de futuro da Universidade. Durante esses anos de convivência e no período da campanha, nossa troca de experiência foi muito profícua. Tenho absoluta certeza de que juntos, e com a competência da comunidade unespiana, iremos prestar um grande serviço à educação superior de nosso Estado. Por oportuno, não poderia deixar de agradecer a generosa compreensão de Tânia, esposa de Herman, bem como a de seus filhos: Fabiana, Ana Carolina e Herman Filho, pelo tempo roubado.

Encerramento

Gostaria de render homenagem aos meus professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP que, com seus ensinamentos, muito contribuíram para a minha formação, como profissional e como cidadão. O Prof. Krieger, presidente da Academia Brasileira de Ciências, aqui presente, é um exemplo desses mestres. Também rendo homenagem aos amigos da UNESP – campus de Jaboticabal, docentes, funcionários e alunos, pela convivência nesses últimos 30 anos, em que, juntos, construímos aquele maravilhoso campus universitário.

Para finalizar, não poderia deixar de mencionar minha família, minhas netas (Luara e Beatriz), meus filhos (Danilo, Soraia e Maria Carolina), minha mãe (D. Ezilda), meu pai (Sr. Attilio – in memorian), minha irmã (Maria Cecília) e meu irmão (Edson) por todos esses anos de carinho e felicidade. Minha eterna companheira, Leda, pelos filhos maravilhosos, pelos momentos de alegria e de dificuldades em nossas vidas, pelo amor e dedicação, o meu amor do fundo do coração.

Agradeço a todos e espero que Deus nos ilumine nesta nossa trajetória.
Muito obrigado.


Assessoria de Comunicação e Imprensa