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Diploma de tecnólogo não é de 2ª categoria

Alan Meguerditchian

 

 

“O Brasil deve abrir os olhos para a formação de curto prazo. O diploma de tecnólogo não é de segunda categoria”. A afirmação é do coordenador executivo do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Tessler, que participou do Seminário sobre Vestibular, na cidade de São Paulo (SP).

O evento reuniu coordenadores de vestibulares e profissionais da educação nesta segunda-feira (28/7), no Ibmec São Paulo – instituição particular de ensino superior. Eles discutiram o vestibular como modelo de ingresso no ensino superior e em que concepção de instituição ele está baseado.

Hoje, segundo o último Censo do Ensino Superior, apenas 12,1% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão matriculados em algum curso superior. O número mantém o país distante da meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de chegar a pelo menos 30% em 2011. Nesse cenário, os cursos tecnológicos tiveram um aumento de 34,3% no número de matrículas.

Segundo o coordenador geral do vestibular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fernando Dagnoni Prado, para ampliar o atendimento é preciso ultrapassar a idéia de que a universidade é o único objetivo final do processo educativo da juventude. “Falta um projeto de nação para os jovens. Paira no imaginário popular a idéia de que todos devem ir para a universidade. É isso que a sociedade precisa?”.

Para Prado, a desvalorização da formação técnica pode ser observada como uma questão de formação cultural do país. “Observamos uma contraposição entre trabalho intelectual e braçal. Engenheiros, por exemplo, torcem o nariz para os técnicos. Mas pergunto: o Brasil precisa de 2 milhões de filósofos?”.

Ambos os coordenadores avaliaram como positivas as ações do Ministério da Educação (MEC), que, nos últimos cinco anos, entregou 45 novas unidades das 64 previstas na primeira fase do plano de expansão da rede federal de educação profissional. Hoje, o país tem cerca de 150 instituições de ensino técnico superior.

Formação generalista

Diante desse contexto, a formação técnica consegue sanar problemas de qualificação dos jovens, mas contribui apenas em parte para a reestruturação do sistema de ensino superior brasileiro. “Os cursos trabalham da mesma forma há um século”, lembrou Tessler.

Segundo o coordenador do vestibular da Unicamp, uma proposta que poderia modificar a situação é de uma formação generalista nos primeiros anos, fazendo com que todos os estudantes passem por todas as áreas antes de escolher uma carreira. “Qual o problema do jovem, ao invés de escolher o curso, optar pela Universidade?”, questionou Tessler.

A idéia baseia-se na concepção de que o início dos estudos superiores de graduação seja de maior amplitude e não comprometido com uma profissionalização precoce e fechada, valorizando-se assim a interdisciplinaridade.

Tal idéia já é adotada em grandes universidades estrangeiras. “O jovem que quer entrar em Harvard – instituição norte-americana – não pensa no curso. Ele pensa: vou entrar em Harvard”, lembrou o coordenador do vestibular da Unicamp. Outro exemplo é o processo europeu de Bolonha, que busca integrar as universidades do continente e promover maior intercâmbio.

No Brasil, tal concepção é promovida mais intensamente pelo reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Monteiro de Almeida Filho. Ele tem divulgado a idéia da Universidade Nova, que implantaria os Bacharelados Interdisciplinares (BI), “propiciando formação universitária geral, como uma pré-graduação que antecederá a formação profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação”, segundo texto do site oficial. Segundo Tessler, a Universidade Nova ainda não é uma realidade, mas sua concepção tem sido discutida principalmente entre as universidades federais.