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Notícias21/02/2007 16:49h "SERRA QUER PRIVATIZAR A EDUCAÇÃO"O presidente da Associação dos Docentes da USP, César Augusto Minto, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira, dia 21, que a proposta de privatizar o ensino superior está embutida no contingenciamento de verbas para a educação.
“Não tenha dúvida, não tenha dúvida (...) Ele (Serra) vai tentar diversificar a oferta de ensino superior, a busca de outras alternativas que não seja aquela que providencia ensino, pesquisa e extensão”, disse Minto.
Minto disse que a idéia do novo secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, é "diversificar" a oferta de ensino superior. E isso, segundo Minto, significa privatizar o ensino superior “com soluções de mercado”, como foi a ênfase do governo Fernando Henrique Cardoso.
Segundo Minto, o governador Serra vai tentar levar essa proposta de privatizar o ensino superior através do ensino tecnológico.
Minto disse que o governador José Serra quer manter os vetos que permitem cortar, sem restrição, qualquer programa social do Estado. Se Serra conseguir manter esse veto vai poder retirar, segundo cálculos de Minto, cerca de R$ 500 milhões que seriam para a expansão das universidades do Estado.
Esse veto deve ser votado nesta quinta-feira, dia 22, pela Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Minto disse que o contingenciamento da verba da educação é do orçamento de 2006. Por isso, o veto foi negociado com Cláudio Lembo, quando ele ainda era governador.
O presidente da Associação dos Docentes da USP, César Augusto Minto, disse que José Serra cercou a imprensa que não trata do assunto do contingenciamento de verbas para a educação.
Leia a íntegra da entrevista com César Augusto Minto:
Paulo Henrique Amorim – Professor, um dos primeiros atos do governador José Serra foi realizar um contingenciamento de verbas das universidades de São Paulo. O que significou isso exatamente?
César Augusto Minto – Na verdade, com este contingenciamento ele tenta negociar coisas futuras. Para você ter uma idéia, até agora a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2007 não está votada. Há uma previsão de que ela passe amanhã pela Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia. Ele não pode contingenciar porque parte dos recursos, praticamente 90%, vai para pessoal. Então o que ele contingencia – e é importante mencionar que estes recursos são de 2006, já aprovados na LDO e na Lei Orçamentária de 2006 – ele pega parte desses 15% dos 10% referentes a custeio. Por isso eu disse que provavelmente ele quer negociar algo a mais que interessa ao governo.
Paulo Henrique Amorim – O que seria esse algo a mais?
César Augusto Minto – Não aumentar os recursos destinados à educação. A Assembléia Legislativa - você sabe que a educação tem um valor vinculado: no mínimo 30% do total da arrecadação – inclui-se nisso a parte que é subvinculada para as universidades, que hoje está em 9,57% do ICMS. Acontece que a AL, no final do ano passado, aprovou uma proposta que amplia o valor para 10,43% do ICMS. E o governador Lembo, após consulta ao novo governador, vetou. Ficou claro que foi de comum acordo. Acho então que é isso que preocupa um pouco.
Paulo Henrique Amorim – O governo então não gostaria que houvesse uma ampliação de 9,57% para 10,43% dos ICMS?
César Augusto Minto – Isso.
Paulo Henrique Amorim – Isso em dinheiro quanto é?
César Augusto Minto – Eu não saberia te dizer o montante, deveria ser algo em torno de R$ 500 milhões. Estou calculando meio por alto.
Paulo Henrique Amorim – Mas é bastante dinheiro.
César Augusto Minto – É bastante dinheiro.
Paulo Henrique Amorim – E as universidades usariam isso para quê?
César Augusto Minto – É importante mencionar que temos falta de pessoal para fazer a expansão de vagas, planejar a pesquisa, especialmente a de longo prazo; precisamos de mais recursos para garantir o funcionamento adequado das atividades de ensino, pesquisa e extensão. E sem recursos vinculados fica difícil fazer planejamento, você não pode ficar à mercê do governo de plantão. Por isso a importância da subvinculação.
Paulo Henrique Amorim – Eu lhe perguntaria: levando-se em consideração que o José Serra é do mesmo partido do Fernando Henrique e uma das ênfases do governo Fernando Henrique foi a privatização da educação, inclusive no ensino superior. Haveria nisso uma intenção de dar ênfase de novo á educação privada?
César Augusto Minto – Não tenha dúvida, Paulo. Só que como é que ele vai querer fazer isso agora, pelo que foi apontado pelo conjunto de decretos que saiu? Ele vai tentar diversificar a oferta de ensino superior, buscando alternativas que não seja aquela que providencia ensino, pesquisa e extensão. Tudo leva a crer que ele vai fazer isso via ensino tecnológico.
Paulo Henrique Amorim – O que é isso?
César Augusto Minto – O ensino tecnológico é hoje providenciado pelo Centro Paula Souza, que permite cursos mais acelerados e mais voltados ao mercado de trabalho. Em princípio, eu não concordo com isso, é um curso mais barato, digamos assim.
Paulo Henrique Amorim – Esse centro é do estado?
César Augusto Minto – É do estado. É curioso, Paulo, que com este conjunto de decretos ele fragmentou ainda mais a educação. Porque parte da educação básica ele deixou na Secretaria de Educação, o ensino técnico, levado pelo Paula Souza, ele deixou na Secretaria de Desenvolvimento, e as universidades ele deixou na Secretaria de Ensino Superior. Entendeu? E a educação superior está ainda mais fragmentada, porque metade está na Secretaria de Desenvolvimento e metade na Secretaria de Ensino Superior.
Paulo Henrique Amorim – E qual seria o objetivo disso?
César Augusto Minto – O objetivo, por uma leitura de entrelinhas, eles vão botar peso no ensino técnico e tecnológico.
Paulo Henrique Amorim – E dar ênfase na parte universitária ao ensino privado?
César Augusto Minto – Isso. E, portanto, não ampliar os recursos, tanto é que você vai ver que já houve entrevista do atual secretário de Ensino Superior, o Pinotti, onde ele diz: se quiserem recursos, recursos a mais, submetam seus projetos à Fapesp ou via fundações de direito privado, diga-se de outra forma: busque alternativas de mercado. E isso aponta claramente para a privatização.
Paulo Henrique Amorim – E outra coisa, e com relação ao Conselho de Reitores, teria havido uma modificação pela qual o controle do Conselho ficaria com o secretário de Educação Superior, o Pinotti, e depois houve um recuo. Em que pé está isso?
César Augusto Minto – Houve o recuo. A única mudança que persiste é que antes o Conselho era composto de cinco pessoas – os três reitores das universidades paulistas e dois secretários, o secretário de Educação e o de Ciência e Tecnologia. Hoje permanecem os reitores e três secretários, ampliou para mais um, que é o de Ensino Superior. E a secretaria de Ciência não existe mais, hoje é de Desenvolvimento. E a presidência continua com os reitores. Nisso não tem mudanças significativas. A interferência que o governo tenta se dá via cooptação, e um pouco via dinheiro, sem dúvida alguma, e cooptação com controle de recursos. Uma tentativa de controle dos reitores.
Paulo Henrique Amorim – E isso já ocorreu antes em São Paulo?
César Augusto Minto – O contingenciamento é inédito.
Paulo Henrique Amorim – Nem nos governos Maluf, Quércia, Fleury....?
César Augusto Minto – Não, não. Até porque isso, essa estrutura, é de 89 para cá. É mais recente. Você teve pequenos atrasos, mas fazer isto que o Serra fez foi a primeira vez que a gente vivenciou. O contingenciamento, na verdade, diz respeito a recursos de 2006, que já estão consignados na LDO e na LO. Isto é inédito.
Paulo Henrique Amorim – Qual é a reação, até onde o senhor pode medir, dos três reitores?
César Augusto Minto – Olha, por incrível que pareça nós não conseguimos ainda falar com os reitores. Estamos já na metade de fevereiro e não conseguimos conversar. Eles foram muito demandados pelo governo e também tem muita gente de férias. Mas acho que precisaria de uma postura mais aguerrida, digamos assim, na defesa das instituições que eles representam. E diria mais: se a sociedade fosse mais bem informada sobre o que está acontecendo ela estaria muito preocupada porque, na verdade, os vetos à LDO não dizem respeito somente à educação. Caso permaneçam eles vão permitir a possibilidade de contingenciamento de todas as áreas sociais, não escapa uma. Se a sociedade se der ao luxo de ver o Diário Oficial ela vai se dar conta...
Paulo Henrique Amorim – Por que todas as áreas sociais?
César Augusto Minto – Porque os vários projetos que tratam de áreas sociais, por exemplo, ampliação do sistema prisional, é uma ação, tem o número 1897. O programa de modernização da segurança pública, o família-cidadã, ações sociais integradas...
Paulo Henrique Amorim – Tudo isso está contingenciado?
César Augusto Minto – Não, tudo isso poder ser contingenciado. O que o governo vetou foi - o que tinha na proposta original da AL é que os recursos para estes programas não poderiam ser contingenciados, e isto o governador vetou. Significa que ....
Paulo Henrique Amorim – Se o veto for mantido ele poderá fazer o que quiser com estes recursos?
César Augusto Minto – Exatamente. Com os recursos para estes programas e ações sociais.
Paulo Henrique Amorim – E isso vai ser votado quando?
César Augusto Minto – A previsão é de ser votado amanhã na Comissão de Finanças e Orçamento. A reunião é a partir das 14h15, no plenário José Bonifácio, se não me engano.
Paulo Henrique Amorim – Mas como o governo tem maioria na Assembléia ele provavelmente vai manter este veto?
César Augusto Minto – Muito provavelmente, isto já está acordado. Essa foi a sensação que tivemos a semana passada. Na quinta-feira os governistas estavam lá para votar. O que conseguimos foi adiar para esta semana.
Paulo Henrique Amorim – Então é por aí que ele pretende fazer o pente-fino do que fez o Alckmin?
César Augusto Minto – Provavelmente. O que é muito preocupante. Você pega a área educacional, por exemplo. Ampliou-se as Fatecs, tem para tudo quanto é canto. Veja, não somos contra a expansão. O problema é que não há previsão de recursos para manter o funcionamento destas escolas. É uma irresponsabilidade do governo na medida em que amplia sem a devida previsão de recursos.
Paulo Henrique Amorim – Muito bem. Então amanhã acompanharemos a votação.
César Augusto Minto – Ótimo. É um serviço que se presta á cidadania.
Paulo Henrique Amorim – A imprensa não tem dado cobertura a esta discussão?
César Augusto Minto – Não tem. Em geral eles recusam. Aparentemente o cerco governista é muito grande.
Paulo Henrique Amorim – À imprensa?
César Augusto Minto – À imprensa.
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