Autonomia
- do
princípio
aos
resultados
José
Tadeu
Jorge
O
debate
que
se
travou
recentemente
em
torno
da
autonomia
de
gestão
das
três
universidades
públicas
paulistas
-
USP,
Unicamp
e
Unesp,
responsáveis
por
metade
da
produção
científica
do
País
-
teve
o
mérito
de
pôr
em
evidência
as
particularidades
desse
estatuto
e
sugere
um
balanço
dos
18
anos
de
sua
vigência,
completados
em
fevereiro
do
presente
ano.
Com
efeito,
desde
1989
as
universidades
estaduais
paulistas
funcionam
baseadas
em
um
processo
de
gestão
autônoma,
princípio
consagrado
na
Constituição
Federal
promulgada
em
1988,
mais
precisamente
em
seu
artigo
207.
A
sistemática
instalada
no
Estado
de
São
Paulo
garante
um
porcentual
de
recursos
provenientes
da
arrecadação
de
ICMS,
cabendo
às
universidades
executar
o
orçamento
de
acordo
com
o
planejamento
e os
projetos
definidos
por
seus
órgãos
colegiados,
sem
restrições
burocráticas
ou
políticas,
submetendo
suas
ações
à
fiscalização
do
Tribunal
de
Contas
do
Estado.
Inicialmente,
foram
destinados
8,4%
para
as
três
universidades,
valor
que
foi
aumentado
em
1992
para
9% e
em
1995
para
9,57%,
índice
que
desde
então
se
mantém.
A
pedra
de
toque
da
autonomia
foi
incorporar
conceitos
de
gestão
que
antes
eram
impossíveis
de
serem
aplicados
nas
universidades,
dada
sua
dependência
umbilical
do
controle
centralizado
e da
política
de
liberações
financeiras
em
conta-gotas.
E
seu
escopo,
arrojado
para
a
época
e
ainda
hoje
singular
no
País,
foi
permitir
que
as
universidades
se
auto-administrassem,
tendo
como
parâmetros
o
comportamento
da
economia,
a
escolha
de
prioridades
e,
principalmente,
a
responsabilidade
no
uso
dos
recursos
públicos.
Graças
a
essa
nova
configuração,
os
indicadores
apresentados
pelas
estaduais
paulistas
são
muito
significativos.
Eles
expressam
uma
evolução
muito
acima
do
crescimento
do
orçamento
das
universidades
em
termos
reais,
o
que
demonstra
de
forma
inequívoca
a
eficiência
e a
seriedade
no
uso
do
dinheiro
público.
Utilizando
a
Unicamp
como
exemplo
e
ressaltando
que
USP
e
Unesp
apresentam
resultados
semelhantes,
ao
longo
do
período
de
autonomia
o
número
de
vagas
oferecidas
no
vestibular
dobrou,
as
oportunidades
apresentadas
para
ingresso
na
pós-graduação
quase
triplicaram
e a
oferta
de
cursos
de
educação
continuada,
por
meio
de
programas
de
extensão,
cresceu
exponencialmente.
O
número
de
teses
e
dissertações
defendidas
em
2005
foi
280%
maior
que
no
ano
inicial
da
autonomia.
Enquanto
o
número
de
docentes
diminuiu
18%,
produzem-se
hoje
sete
vezes
mais
artigos
científicos
do
que
em
1989.
São
sintomas
de
uma
pesquisa
muitíssimo
mais
vigorosa
que
antes
e
muito
mais
apta
a
gerar
conhecimento
novo,
o
que
certamente
explica
por
que,
desde
há
alguns
anos,
as
universidades
estaduais
paulistas
aparecem
sistematicamente
bem
posicionadas
nas
classificações
internacionais.
Não
raro
esse
conhecimento
se
transforma
em
produto
ou
em
processo
para
o
setor
industrial,
contribuindo
para
o
desenvolvimento
da
região,
do
Estado
e do
País
pela
geração
de
riqueza,
emprego
e
renda.
Como
conseqüência
direta
da
autonomia,
a
Unicamp
tornou-se
a
principal
geradora
de
patentes
do
País
-
com
um
volume
crescente
de
licenciamentos,
ou
seja,
de
conhecimento
transformado
em
benefício
da
sociedade
-,
ampliando
sua
capacidade
de
estabelecer
parcerias
estratégicas
e de
contribuir
para
a
modernização
tanto
do
setor
privado
quanto
do
público.
Não
é
por
acaso
que,
como
constatou
ainda
há
pouco
uma
revista
semanal,
“a
região
em
torno
da
Universidade
Estadual
de
Campinas,
no
interior
paulista,
tornou-se
o
principal
pólo
de
inovação
tecnológica
do
País”
(Revista
Veja,
17/1).
Mais
que
isso,
ao
longo
desses
anos
as
três
universidades
assumiram
tarefas
que
vão
além
das
suas
obrigações,
mas
se
inserem
no
caráter
público
de
seus
objetivos.
O
exemplo
mais
marcante
está
na
área
da
saúde,
em
que
-
tomando
a
peito
a
difícil
situação
da
saúde
brasileira
-
arcam
com
o
desafio
ciclópico
de
gerir
complexos
hospitalares
muito
maiores
do
que
suas
necessidades
de
infra-estrutura
para
formar
profissionais
nos
níveis
de
graduação
e
pós-graduação.
Só a
Unicamp
tem
quatro
hospitais
sob
sua
responsabilidade,
um
dos
quais
- o
Hospital
Estadual
de
Sumaré
-,
fruto
de
um
contrato
de
gestão
com
a
Secretaria
Estadual
de
Saúde,
saiu
do
zero
para
transformar-se,
em
apenas
seis
anos,
num
dos
melhores
hospitais
públicos
do
País,
segundo
avaliação
do
Ministério
da
Saúde.
É
pouco
provável
que
algum
outro
setor
da
administração
pública
possa
apresentar,
em
período
igual,
resultados
tão
expressivos
e
relevantes,
tanto
do
ponto
de
vista
quantitativo
como
do
qualitativo.
Bem
por
isso,
o
modelo
da
autonomia
paulista
virou
referência
em
todo
o
País
e
suas
três
universidades
públicas
se
tornaram
um
exemplo
de
vinculação
real
com
a
sociedade,
de
compromisso
com
os
problemas
sociais
e
com
a
lisura
no
trato
do
bem
público.
Elas
podem
demonstrar
isso
por
meio
dos
indicadores
físicos
de
qualidade
e de
produtividade,
que
alcançam,
além
do
ensino,
da
pesquisa
e da
transferência
de
conhecimento
científico,
a
produção
e a
disponibilização
de
cultura
em
todas
as
suas
formas.
Dificilmente
um
tal
desempenho
seria
possível,
com
tamanha
intensidade
e
qualidade,
no
antigo
regime
de
dependência
orçamentária
e
sob
o
controle
do
caixa
único
da
administração
direta.
Com
a
vinculação
de
recursos
e a
possibilidade
de
remanejá-los
livremente,
essas
universidades
passaram
a
fazer
políticas
públicas
muito
mais
pertinentes
que
antes,
de
um
lado,
por
se
acharem
próximas
das
demandas
e
necessidades
sociais
de
suas
regiões,
de
outro,
por
terem
o
poder
de
incluí-las
nos
projetos
definidos
por
seus
programas
de
planejamento
estratégico.
José
Tadeu
Jorge,
reitor
da
Universidade
Estadual
de
Campinas
(Unicamp),
é
presidente
do
Conselho
de
Reitores
das
Universidades
Estaduais
Paulistas
(Cruesp). |