Negócio rende R$ 1 bi para Rodoanel
Estado vende folha
de pagamento à Nossa Caixa; parte da
verba deve ser usada em obras do
metrô e da CPTM
Vera Dantas
O Banco Nossa Caixa comprou por R$
2,084 bilhões a folha de pagamentos
dos servidores estaduais paulistas.
Pelo contrato, assinado ontem com a
Secretaria da Fazenda do Estado de
São Paulo, a Nossa Caixa manterá a
exclusividade no pagamento da folha
de 1,1 milhão de funcionários
públicos pelo prazo de 60 meses (5
anos). O pagamento foi feito à
vista.
Ao comunicar a venda, o secretário
da Fazenda, Mauro Ricardo Costa,
aproveitou para anunciar que os
recursos obtidos com a negociação
irão para obras de infra-estrutura.
Estão previstos R$ 1,084 bilhão para
o Rodoanel, R$ 300 milhões para
estradas vicinais, R$ 600 milhões
para obras do metrô e da CPTM e R$
100 milhões para reforma e
construção da Fóruns em vários
municípios.
O secretário do Planejamento,
Francisco Vidal Luna, destacou que,
com os recursos recebidos, o
Rodoanel Sul poderá ser construído
com garantia e estabilidade. “Não
havíamos começado antes por falta de
recursos que garantisssem um início
de obra seguro e permanente”, disse.
A construção do Trecho Sul começa na
Régis Bittencourt, passa pelas
Rodovias dos Imigrantes e Anchieta e
vai até as Avenidas João XXIII, em
Mauá, e Jacu-Pêssego. “É uma obra de
66 km, com contratos com cinco
consórcios e o valor total é de R$
2,6 bilhões”, disse o secretário
estadual de Transportes, Mauro Arce.
Já os R$ 600 milhões que o governo
destinou às obras do metrô e da CPTM
servirão para a compra de 87 trens e
às linhas 2 do metrô e F da CPTM. A
linha 2 do metrô terá mais 4,5 km e
três estações , que vão do Alto do
Ipiranga à Vila Prudente. Na linha F
da CPTM serão construídas as
estações USP-Leste, Jardim Helena e
Jardim Romano. Já a linha C será
estendida de Jurubatuba ao Grajaú.
Uma das estações passará ao lado do
Autódromo de Interlagos.
O governo, explicou o secretário,
decidiu ofertar a folha
prioritariamente à Nossa Caixa. “Se
não houvesse interesse, o que não
ocorreu, faríamos um processo de
licitação”, disse o secretário. Ele
não espera uma contestação judicial
do contrato de venda. A operação,
explicou, foi feita com amparo na
lei 8.666, que trata de licitação, e
atende às determinações do Conselho
Monetário Nacional relacionadas à
conta salário. Em relação ao valor
pago, ele disse que o montante foi
estabelecido pelo governo com base
em um laudo elaborado pela Fundação
Instituto de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
Observou também que o valor era
coerente na comparação com outras
operações semelhantes feitas
anteriormente.
“A Caixa pagou R$ 2,084 bilhões para
movimentar em torno de R$ 125
bilhões nesse período”, resumiu o
secretário da Fazenda.
O presidente da Nossa Caixa, Milton
Luiz de Melo Santos, disse que a
situação da instituição era
“extremamente folgada” para fechar o
negócio sem precisar recorrer à
emissão de papéis e títulos. “Foi
uma operação entre tantas outras que
o banco já fez com prefeitos no
Estado de São Paulo”, disse. A
instituição tem 131 contratos com
prefeituras onde adquiriu o direito
de fazer o pagamento em folha. Ele
afirmou também que o pagamento foi à
vista, será registrado como despesas
antecipadas e amortizado mensalmente
durante cinco anos.
“O valor pago cabe dentro do nosso
orçamento e a capacidade que o banco
tem de gerar receita é ampla”,
reforçou Melo Santos. Ao explicar
porque o banco decidiu pagar para
ter o direito à folha dos
servidores, já que ao menos metade
deles já recebia pela instituição e
sem custos, ele lembrou que a Nossa
Caixa não tinha contrato formalizado
com o governo do Estado. Desde a
aquisição do Banespa pelo Santander,
a Caixa ficou com a folha de 550 mil
servidores pensionistas e
aposentados. O restante da folha de
cerca de 600 mil servidores que
estava no Santander veio em
janeiro,conforme um decreto estadual
baixado em julho.
Para fidelizar esses clientes, que
Melo Santos considera importantes
“pela estabilidade no emprego e
baixo nível de inadimplência”, a
Nossa Caixa acena com uma série de
ações de marketing, como a criação
de linhas de crédito que chegam a 72
meses e empréstimos para aquisição
de casa própria, que pode chegar a
100% do valor do imóvel. Mas, por
decisão da CVM, o banco não poderá
cobrar desses clientes por
transferências de recursos, por
saques, cartões magnéticos e talões
de cheque. De acordo com Melo
Santos, a fidelização de ex-clientes
do Santander chega a 65%. |