O Estado de S. Paulo, A2, 17/02/07
Mudanças na Capes
É extremamente preocupante a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de
reformulação da Capes, para atuar na área de formação de professores de ensino
básico. A Capes é uma instituição modelar no Brasil, porque tem um objetivo
definido (a expansão da pós-graduação com pesquisa) e um corpo técnico e de
consultores altamente competente. A Capes também é o órgão mais enxuto da
administração, porque usa menos de 5% da sua verba na manutenção dos seus
serviços. Todo o resto é repassado aos usuários em forma de bolsas e auxílios.
Não teríamos a pós-graduação e a pesquisa que temos hoje nas universidades sem a
Capes. Agora se pretende criar um apêndice maior que a própria Capes, com 400
novos cargos, muitos sem concurso. Ela não está organizada nem tem experiência
com o ensino básico.
Cabe perguntar: em lugar de descaracterizar a Capes, que realiza muito bem uma
tarefa importante na pós-graduação e na formação de professores e pesquisadores
para o ensino superior, não seria melhor usar esta verba para criar outra
agência, especializada para tratar do ensino básico? E ainda: já se levou em
consideração o custo de tentar centralizar a formação de professores de todos os
níveis de ensino no governo federal num país tão heterogêneo e das dimensões do
Brasil? No ensino básico todo são milhões de professores e milhares de cursos
para formação de docentes. A escala é inteiramente diversa das centenas de
cursos de pós-graduação que a Capes avalia, monitora e financia. Finalmente,
cabe ainda desconfiar das cabeças que serão recrutadas para esta nova
incumbência. Se forem as mesmas que elaboraram as Diretrizes Curriculares para o
Curso de Pedagogia, duvido que cheguemos a formar professores aptos para
ensinar, e não apenas para fazer reflexões teóricas.
EUNICE R. DURHAM, professora
São Paulo