Plano:
dobrar vagas nas federais |
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Governo
quer criar 125 mil vagas no ensino superior até 2010,
privilegiando o interior. Mas faltam professores |
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ENSINO
SUPERIOR |
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Renata
Cafardo
O projeto do governo
Lula de expansão das universidades federais é ambicioso.
Pretende espalhar pelo País novas instituições e campus e
criar 125 mil vagas federais até 2010 - dobrando o total
existente. Quase todas no interior, onde o ensino superior
privado não quer chegar. Embora a necessidade de mais vagas públicas
seja consenso, sua criação pode sobrecarregar um sistema
fragilizado e carente de verbas, professores e agilidade
administrativa.
Pelo cronograma do governo, seriam criadas 25 mil vagas neste
ano, 10 mil em 2007, 30 mil em 2008, outras 30 mil em 2009 e
mais 30 mil em 2010. O total é maior do que as vagas existentes
no sistema. A intenção é assinar convênios para iniciar a
construção de prédios e a definição de projetos pedagógicos
de todas elas até o fim do ano.
O Brasil tem cerca de 10% da população entre 18 e 24 anos
cursando o ensino superior - na Argentina são 20%, na Coréia,
48%. Quase 90% das vagas aqui são privadas, o resto se divide
entre universidades federais, estaduais e municipais. 'O governo
quer democratizar o ensino superior', diz o secretário da área
no Ministério da Educação (MEC), Nelson Maculan.
DÉFICIT DE
PROFESSORES
O projeto prevê 10
novas universidades - entre elas a Federal do ABC, em Santo André,
que teve o projeto arquitetônico divulgado ontem (veja detalhes
no destaque acima) - e 41 novas unidades de universidades já
existentes.
No Estado, a Federal de São Paulo (Unifesp) já começou a se
expandir da capital para Diadema, Santos e Guarulhos. 'Nosso
grande problema é a falta de recursos humanos', diz a diretora
da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (Andifes), Margarida Salomão. Ela
explica que durante os anos 90 não houve novas contratações,
tanto de professores, quanto de pessoal técnico-administrativo.
O déficit hoje, segundo seus cálculos, é de 20%.
O vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes), Paulo Rizzo, conta
que na Universidade Federal de Santa Catarina, onde trabalha, há
cerca de 250 professores substitutos. 'Isso era usado quando
algum professor se apo
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Serão
10 novas universidades e 41 campus de federais já
existentes |
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sentava
e não podíamos contratar outro. Mas o substituto já virou uma
figura permanente', diz. 'Não somos contrários à expansão,
mas ela precisa vir com garantia de qualidade.' Mesmo sem
aumento do quadro de pessoal, as universidades passaram a
aumentar, a pedido do MEC, suas vagas a partir de 1998. Naquele
ano, havia 95 mil vagas em todo o sistema; hoje, são 123.959. O
MEC ainda não tem previsão de quantos professores e técnicos
serão contratados até o fim da expansão. Recentemente, houve
a primeira liberação de vagas para professores.
Serão abertos neste ano concursos para contratar 2.250 mestres
e doutores para as federais já existentes e 1.759 que trabalharão
nas novas.
VERBAS
Para o funcionamento
do megassistema federal, o MEC havia proposto regras em sua
Reforma Universitária, mas o projeto parou na Casa Civil e nem
Concurso escolhe
projeto para sede da federal do ABC
A sede da
Universidade Fede-ral do ABC (UFABC), em Santo André, será
projetada pela equipe do arquiteto Cláudio Libeskind, de São
Paulo. O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Ensino
Superior do Ministério da Educação, Nelson Maculan. O
anteprojeto, que concorreu com outras 50 propostas num concurso
nacional, propõe três praças de convivência e tem 'uma forte
imagem urbana', segundo a comissão julgadora. Além disso,
divide as áreas de conhecimento em três prédios, com
capacidade para até 9 mil alunos. Como materiais, predominam
concreto, vidro, madeira e zinco. O júri, porém, sugeriu um
novo estudo em alguns pontos, como o acesso e a moradia
estudantil.
Além do prêmio de R$ 30 mil, a equipe vencedora vai assinar
contrato para desenvolver o projeto básico da universidade, o
que deverá ser feito em dois meses. Em seguida, segundo Maculan,
começará a licitação da obra.
Serão gastos R$ 50 milhões na primeira etapa da construção.
'Abrimos o edital para professores, com 140 vagas, além de 80
para o pessoal técnico e administrativo', disse Maculan. As
aulas deverão começar em setembro, com cerca de mil alunos, em
prédio ainda não definido.
Serão oferecidos cursos de Licenciatura em Física, Química,
Biologia, Matemática e Ciências da Computação. Mais adiante,
serão abertos os de Engenharia, Ciências Sociais Aplicadas e
de Humanas. KARINE RODRIGUES
chegou ao Congresso
Nacional.
Ele previa que 75% do orçamento do ministério fosse
direcionado ao ensino superior federal.
Andifes e Andes consideram o valor insuficiente, mas reconhecem
que já houve crescimento no orçamento de custeio durante o
governo Lula. Mesmo assim, durou 112 dias a última greve nas
federais, que acabou em dezembro. 'E expansão é custo, precisa
aumentar mais', completa Margarida.
Maculan diz que houve falta de financiamento do ensino superior
no governo passado. E mostra que, de 1997 para 2005, o total
destinado às universidades pulou de R$ 6,6 bilhões para R$ 8,9
bilhões. Ela reclama também da burocracia. Os processos são
lentos e precisam sempre passar pelo ministério. 'Nem exoneração
e substituição de profissionais podemos fazer sozinhos', diz.
Há anos, o sistema pede a autonomia administrativa, como já
ocorre em São Paulo com USP, Unicamp e Unesp.
CARÊNCIA
'São Paulo tem carência
de vagas no ensino superior público', diz o pró-reitor de
Graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Mello, justificando os
novos rumos tomados pela instituição. Neste ano, começam a
funcionar os primeiros cursos na Baixada Santista. Um convênio
com a prefeitura de Diadema já garante também vagas na cidade
do ABC de Farmácia, Ciências Biológicas, Química e
Engenharia Química.
Mas o passo mais audacioso da Unifesp deve ocorrer em Guarulhos
com a abertura de cursos na área de humanas. A instituição,
ex-Escola Paulista de Medicina, há décadas se dedica à saúde.
'Já sabemos o que é fazer pesquisa e ensino de qualidade,
podemos fazer o mesmo em outras áreas', diz Mello.
Haverá ainda vagas federais em dezenas de cidades do Norte e
Nordeste, que hoje tem a menor oferta do País. |
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