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Revolução
na educação |
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A
rede escolar privada está ingressando numa nova etapa de sua
história.
Pressionados pela expansão da concorrência no âmbito do
ensino fundamental, os colégios tradicionais e os grupos
educacionais mais fortes se inspiraram nas escolas
norte-americanas e reformularam radicalmente seu conceito de
responsabilidade social. Em vez de destinar uma cota de vagas
para alunos carentes, elas deixaram de lado o velho
assistencialismo e agora estão realizando exames com o objetivo
de selecionar os melhores alunos da rede pública, cujos pais não
têm condições de pagar as altas mensalidades cobradas pelas
escolas particulares ou confessionais.
A seleção inclui provas em disciplinas básicas, dinâmica de
grupo e avaliação do nível de maturidade e do equilíbrio
emocional dos candidatos, além de entrevistas com as famílias.
O envolvimento dos pais e a disciplina, a capacidade de
concentração e a vontade de aprender dos estudantes
selecionados são fundamentais para o sucesso dessa experiência.
'A família tem de ser sócia no projeto', afirma Ilona Becskeházy,
do Instituto Social Maria Telles (Ismart). Só um dos colégios
envolvidos nessa iniciativa examinou, recentemente, cerca de 1,6
mil candidatos para 150 vagas.
Em São Paulo, a experiência vem sendo realizada pelos colégios
Santo Américo e Santa Cruz, que são vinculados a ordens
religiosas, pelo Colégio Vera Cruz, que é laico, e pelo Grupo
Objetivo, um dos maiores do País. No Rio de Janeiro, a mesma
iniciativa foi adotada pelos Colégios São Bento e Santo Inácio,
freqüentados por alunos oriundos da elite carioca.
E, em Minas Gerais, a estratégia foi adotada pelo Grupo Pitágoras,
que tem uma rede de 500 escolas espalhadas pelo País e conta
com a orientação pedagógica do economista Cláudio Moura
Castro, ex-diretor da Coordenaria de Aperfeiçoamento do Pessoal
de Ensino Superior (Capes), ex-consultor do BID e do Banco
Mundial e um dos responsáveis pela adoção de mecanismos de
avaliação escolar em países do Leste Europeu.
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Escolas
privadas buscam os bons alunos das escolas públicas |
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Esses colégios
têm sido ajudados nessa empreitada por movimentos sociais e por
organizações não-governamentais (ONGs), que auxiliam na
escolha de alunos pobres com alto potencial de aproveitamento, e
por grandes bancos e corretoras de valores, que ajudam as famílias
nos gastos com transporte, alimentação e aquisição de
uniformes e de material didático. Essa cooperação entre a
iniciativa privada do setor educacional, ordens religiosas, ONGs,
entidades comunitárias e instituições financeiras é mais uma
demonstração do nível de desenvolvimento do chamado 'terceiro
setor' entre nós.
Todos ganham com isso. As escolas, por exemplo, tendem a
adquirir maior visibilidade no mercado, dispondo de alunos
talentosos
como cartão de visitas,
independentemente de sua origem social. Bancos, corretoras e
empresas reforçam a imagem de 'empresas cidadãs', ou seja,
comprometidas com a melhoria do nível da educação. Movimentos
comunitários e ONGs são estimulados a substituir o velho e
desgastado assistencialismo benemerente por uma atuação mais
profissional e eficiente .
Os próprios alunos são obrigados a cooperar com colegas de
diferentes classes sociais, o que propicia um saudável aumento
da diversidade cultural no ambiente escolar. Enquanto os
estudantes pobres têm a possibilidade de desenvolver suas
potencialidades e de ascender socialmente, os estudantes de
classe média sofrem um 'choque de realidades', afirma Cláudio
Moura Castro.
Já as escolas 'precisam ter vocação para a inclusão social',
lembra Ilona Beckskeházy. Valorizar alunos pobres que se
sobressaem é uma forma de democratizar o ensino fundamental,
diz Sonia Bercito, do Grupo Objetivo.
Como a educação é uma das áreas estratégicas para o
desenvolvimento socioeconômico, a oferta de oportunidades para
alunos talentosos pobres pela rede escolar privada representa
uma pequena revolução no sistema de ensino. Essa experiência
é importante não apenas porque contribui para a melhoria dos
recursos humanos e a formação das elites técnicas e
gerenciais de que o País necessita, mas também porque mostra o
papel que podem ter na solução dos nossos grandes problemas as
iniciativas do setor privado em cooperação com as ONGs que
suprem as deficiências dos governos. |
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