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São Paulo, 11 de janeiro de 2008
JORNAIS

Folha de S.Paulo

Ciência
Mal colocada em ranking, Unesp premia pesquisa
Cientista que publicar artigo nas revistas "Nature" ou "Science" receberá R$ 15 mil
Dinheiro poderá ser usado apenas dentro de projetos; universidade também vai recompensar os grupos com os estudos mais citados

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mal colocada no ranking da ciência de impacto, a Unesp (Universidade Estadual Paulista) decidiu reagir criando uma gratificação de R$ 15 mil para os pesquisadores que conseguirem publicar artigos nas prestigiadas revistas "Nature" e "Science" em 2008. O dinheiro poderá ser gasto apenas em projetos de pesquisa e complementará outros bônus de um programa de estímulo maior, lançado no ano passado.

De acordo com um levantamento realizado pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, a Unesp ocupa hoje a 22º colocação na lista das instituições brasileiras com maior número de citações por artigo publicado por seus pesquisadores (veja ranking à direita). Segundo o pró-reitor de pesquisa da Unesp, José Arana Varela, a preocupação com um índice que possa medir a qualidade das pesquisas é uma cultura recente no país, que só surgiu após empreitadas científicas brasileiras de peso, como os projetos genoma paulistas.

"Muitas vezes a universidade publicava para dentro dela, em revistas que ela mesmo criava, e as pesquisas não tinham um impacto mais internacional", disse Varela à Folha. "Isso [a internacionalização] surgiu depois, com a maturidade que fomos adquirindo com esse processo, (...) mas não houve, em um primeiro momento, uma preocupação muito grande com índice de impacto".

Segundo o pró-reitor, os R$ 15 mil da gratificação por artigos nas duas revistas escolhidas são apenas parte do programa maior de incentivo à publicação. "Dentro de um orçamento total da universidade, isso aí é dinheiro de pinga", diz Varela. "Se nós tivermos quatro ou cinco publicações em "Nature" ou "Science" em um mesmo ano, acho que já será um grande avanço."

O programa destinado a incentivar a produtividade deve consumir R$ 500 mil em 2008. Vai premiar também os departamentos da Unesp que tiverem publicado artigos com melhor índice de citação, independentemente da revista em que os estudos forem veiculados.

Questão de impacto - "O estimulo para publicar em revistas melhores é bom", afirma Rogério Meneghini, autor do ranking da média de citações por artigo. "O impacto tem uma correlação com qualidade. Não é uma correlação automática, mas ela existe." Meneghini, um bioquímico, questiona, contudo, a decisão da Unesp de restringir a gratificação à "Nature" e à "Science".

"O puro fato de publicar numa revista de alto impacto não garante que se esteja levando em conta os melhores trabalhos", diz. "Eu já publiquei um artigo na "Nature" que teve sete citações, (...) mas tenho artigos muito mais citados em revistas que você poderia chamar de nível dois, mas que ainda são revistas de prestígio."

Segundo Meneghini, isso acontece porque o fator de impacto (média de citações por artigo em um intervalo de dois anos) de revistas muito visadas acaba se concentrando em poucos cientistas de altíssimo prestígio. O fator de impacto da "Nature", por exemplo, é 27. "Só que quem é responsável por isso são alguns autores que chegam a receber até 400 citações por artigo", diz o cientista.

Segundo Varela, a decisão de limitar a gratificação a essas duas revistas mais visadas se deve ao fato de elas cobrirem praticamente todas as áreas do conhecimento científico. O pró-reitor diz que a universidade pretende aprimorar o sistema nos próximos anos, incluindo outras revistas e criando critérios para a gratificação em humanidades, onde o sistema de impacto quase inexiste. "Nas ciências sociais e outras humanas, a publicação de livros é mais importante", diz Varela. "Não dá para ter um critério único para todas as áreas."