ENTREVISTA
MARIA PAULA DALLARI BUCCI
Só ficará faculdade que tiver qualidade, diz nova
secretária
Afirmação é de nova secretária de
Educação Superior do MEC, que assume hoje
Maria Paula, que é advogada, exigirá cumprimento de lei que obriga que um
terço dos professores atue em regime integral nas universidades
ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A nova secretária de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação),
Maria Paula Dallari Bucci, 45, cobrará que as universidades tenham um terço
dos professores em tempo integral. Quem não cumprir a exigência, o que já
deveria ter ocorrido há quatro anos, poderá ser até descredenciado. O
presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino
Superior), Gabriel Rodrigues, disse ontem que as instituições particulares
têm procurado seguir a lei, embora o custo seja alto. Professora da FGV
(Fundação Getulio Vargas), Maria Paula afirma que a fiscalização que
resultou no corte de 25 mil vagas de direito será estendida a todas as áreas
avaliadas pelo MEC. "Só vai ficar quem tiver qualidade." Formada em direito
pela USP, foi procuradora-geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica) e chefe da consultoria jurídica do MEC. Ela substitui Ronaldo
Mota a partir de hoje.
FOLHA - Quais as suas
prioridades?
MARIA PAULA DALLARI BUCCI - Vamos acompanhar o Reuni [programa de
expansão das universidades federais] para que ele cumpra tanto o papel de
democratização do acesso como o de aproximar a educação básica da superior.
Queremos aumentar os recursos dos hospitais universitários. Outra área
importante é a do ProUni [programa de bolsas] e Fies [financiamento
estudantil]. A última área é a regulação -a avaliação tem que estar no
centro do processo. Isso já ocorreu com direito, medicina e pedagogia.
FOLHA - Só 43% das universidades
privadas cumpriram a exigência legal de ter um terço dos docentes em regime
integral. O que acontecerá?
MARIA PAULA - As instituições serão chamadas a informar se os dados
[de apenas 43% adequadas] estão corretos. Se estiverem, em um prazo bem
curto terão de se adequar. A exigência está na lei há muito tempo. Ao final
do prazo, não havendo adequação, serão impostas sanções, que podem chegar ao
descredenciamento.
FOLHA - O ministro Fernando
Haddad disse que vai haver mudanças no curso de jornalismo. Quais?
MARIA PAULA - Vamos examinar se a formação está em sintonia com o
que se faz no resto do mundo, se é atual. O Brasil vai passar pela discussão
de revisão de currículos em várias matérias. O jornalismo é uma.
FOLHA - A medicina terá redução
de vagas?
MARIA PAULA - Em medicina, o problema é mais localizado na questão
da infra-estrutura: curso sem hospital e sem prática é, por definição, um
curso com problema.
FOLHA - Avaliação do MEC mostrou
que 96% das instituições com baixas notas são privadas. Por quê?
MARIA PAULA - Há cursos privados de excelência e há cursos públicos
com problemas. Em medicina, 4 dos 17 cursos com avaliação insatisfatória são
públicos -estão passando por supervisão e o MEC vai adotar medidas de
melhoria. Não vai passar por cima e dizer que, porque são públicos, são
ótimos. Não são.
FOLHA - Não houve erro ou
excesso na autorização de cursos?
MARIA PAULA - Houve uma diretriz de expansão e o processo de
autorização é uma espécie de promessa, é feito com base em projeto. O
acompanhamento posterior é tão ou mais importante.
FOLHA - Refis das universidades
foi incentivo a mau pagador?
BUCCI - Todos os programas de refinanciamento de dívida recebem essa
crítica. A educação superior passou por um período de reorganização que deve
se consolidar agora. Esse período tem dois traços. O primeiro traço é a
avaliação de qualidade como elemento central, que já está acontecendo e vai
se consolidar no período próximo. Só vai ficar quem tiver qualidade.
O segundo é a existência de um programa como o ProUni, que reduziu o número
de vagas ociosas. Há uma razão coerente para o financiamento: essas
instituições abrigam milhares de alunos. Qualquer readequação tem que
considerar isso. |