"Cada um de nós paga o
preço pelos exageros que cometemos", afirmou
ele, em rápida entrevista antes de
participar, na capital da Guiana, de um
encontro com presidentes do Caribe e da
América do Sul. Na véspera, o ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo, informara em
Brasília que o governo pretende enviar para
o Congresso um projeto estabelecendo limites
para as greves no serviço público.
Indagado se havia abuso em paralisações de
servidores em áreas como saúde e controle de
vôos, o presidente Lula foi cuidadoso. "Há
abuso de greve não apenas no setor público,
mas em outras categorias", afirmou. "Na
verdade, o que queremos garantir na
organização do trabalho do Brasil é maior
responsabilidade, maior liberdade e,
portanto, mais atos conseqüentes de todos
nós."
Lula afirmou que nos anos 70, quando ele
presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e liderava greves, tinha a
preocupação de garantir o funcionamento de
determinado serviços das empresas. "Nós
acordávamos que alguns setores não deviam
parar, não aconteceria nada", disse. "Num
momento, é possível concluir que um setor
não pode fazer greve e, no outro, pode."
O que o governo pretende enviar ao Congresso
é um projeto ratificando a Convenção 151 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT),
texto do qual o Brasil é signatário e que
estabelece regras para greves. O presidente
assegurou que o projeto vai garantir a livre
contratação do trabalho e maior liberdade de
negociação.
"Quando se fala em
regulamentação, pode ou não limitar greve,
depende dos acordos que fizer", disse. "Com
a liberdade para negociar, vai ter que
aumentar as responsabilidades do governo e
dos sindicatos. Tudo fica mais fácil quando
as pessoas têm responsabilidade."
Ao comentar a reação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), que na véspera já se
manifestara contra a proibição à greve em
setores essenciais do serviço público, Lula
avaliou que há um mal entendido. "Talvez a
CUT esteja chateada com a manchete do
jornal", declarou. "Mas pergunte se ela é
contra a convenção."
A proposta, segundo o presidente, garante
liberdade de negociação entre patrões e
empregados. "Vai ter mais responsabilidade",
previu. "Quando sentarmos à mesa de
negociação, vamos saber que a coisa é para
valer. Um contrato coletivo anunciado
precisa ser cumprido."
Na sexta-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, defendeu limites à paralisação no serviço público. “Nós precisamos definir numa lei o que a Constituição prevê. Temos de preservar o direito do servidor, mas também o atendimento ao cidadão e os interesses da sociedade. Se o serviço é essencial, precisamos saber os limites”, disse o ministro.
“Em alguns serviços essenciais, tem que ser proibida a greve”, afirmou Bernardo, na sexta, após se reunir com o presidente Lula no Palácio da Alvorada.