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17/08/2007 - 06h00 - Atualizado em 17/08/2007 - 09h37

Novo secretário pretende criar ‘universidade virtual’

Carlos Vogt, da Secretaria de Ensino Superior, tem como bandeira o ensino à distância.
Outra iniciativa será retirar a Fapesp da pasta de Desenvolvimento.
Simone Harnik Do G1, em São Paulo
 
Recém-nomeado para a pasta de Ensino Superior do estado, Carlos Vogt, assume o cargo com um plano para apagar as invasões e protestos nas universidades públicas de São Paulo: a universidade virtual. É um projeto de implantação do ensino à distância em consórcio com as instituições de ensino superior públicas, com a TV cultura associada ao sistema de telefonia 0800.
Divulgação/Divulgação
O novo secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt (Foto: Divulgação/Secretaria)

“Tudo isso tem um tempo de cozimento rápido. Temos que caminhar nisso, respeitando o que é sagrado na vida das instituições, que é a autonomia”, afirmou. Autonomia essa que ocupou lugar central na crise que culminou com a ocupação da universidade. 

Ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Vogt vai tirar a instituição da Secretaria de Desenvolvimento e levar para sua nova pasta: "É um amor antigo", brinca. A medida também era uma reivindicação dos manifestantes. Confira a entrevista que o secretário concedeu por telefone.

G1 – Como foi o convite do governador para assumir a pasta?
Carlos Vogt -
A gente vinha conversando por causa de temas ligados à Fapesp, e durante a elaboração do decreto declaratório [editado em junho para atender às reivindicações de manifestantes da USP]. Depois, apresentei ao governador um projeto grande sobre a ampliação da capacidade de atendimento das instituições públicas e a demanda social por vagas.

G1 – Como é esse projeto?
Vogt -
A gente está chamando de universidade virtual do estado de São Paulo. É um programa consorciado entre as instituições de ensino superior, a TV Cultura, a Fapesp, a Secretaria de Ensino Superior e a da Educação. A idéia é utilizar a metodologia de ensino à distância, em canal aberto, e a TV digital. Também vamos usar os recursos do 0800 de telefonia, material impresso, material eletrônico distribuído e monitoria de estudantes de cursos de graduação. Os centros de ensino ficariam distribuídos pelo estado, e principalmente na Unesp [Universidade Estadual Paulista].

G1 – Como ele vai funcionar?
Vogt –
Ele terá um custo estimado entre R$ 150 e R$ 160 milhões. O projeto tem três módulos e três focos distintos. O primeiro é a capacitação formal de professores da rede de ensino fundamental e médio, pois cerca de 60 mil ainda não têm licenciatura. Nos primeiros anos pretendemos atender 36 mil desses professores. O segundo foco é de graduação, com cursos nas áreas de linguagens, português, inglês, literatura, matemática, computação, ciências básicas. E o terceiro foco é na pós-graduação, educação continuada e cursinhos de atualização.

G1 – Esta é a principal bandeira da sua gestão?
Vogt –
É boa parte da razão que me levou à secretaria e será, certamente, o projeto que mais vai me ocupar. Estamos iniciando as conversas com as universidades, isso vai requerer visitas, discussões, conversas e entendimentos. Mas a principal bandeira é a autonomia das instituições. Ali nasci e ali me criei [Vogt foi reitor da Universidade Estadual de Campinas]. Tudo isso tem um tempo de cozimento rápido. Temos que caminhar nisso, respeitando o que é sagrado na vida das instituições, que é a autonomia.   

G1 - O senhor teme protestos nas universidades? Pretende negociar com estudantes, caso aconteçam invasões?
Vogt -
Ninguém quer isso. Mas, obviamente, faz parte da dinâmica do processo social e político. Pretendo trabalhar de maneira integrada na linha institucional.

G1 – Durante as manifestações houve muita discussão sobre as Faculdades de Tecnologias (Fatecs) ficarem na Secretaria de Desenvolvimento. Como o senhor pretende agir com isso?
Vogt -
Esse é um assunto que merece discussão. No ofício que encaminhamos ao governador [em junho], que acompanhou a publicação do decreto declaratório, solicitamos que ele constitua grupo de trabalho voltado para a questão do ordenamento da ciência e tecnologia do estado. Será questão importante. Está relacionada com a integração.

G1 – O senhor acha que o governo demorou em agir e publicar o decreto na época da crise da USP?
Vogt -
Não. Tudo faz parte de uma dinâmica do processo político, e entendimentos vão sendo construídos. Crises ou levam ao desastre ou a novas conquistas. Conquistamos compreensão do processo do governo Serra com o documento. Ele é uma peça que concretiza a autonomia. E agora a Fapesp está vindo junto com as universidades, para o Ensino Superior, depois que ficou no Desenvolvimento.

G1 – Então o senhor, como ex-presidente da Fapesp, não quis perder o vínculo?
Vogt –
É. Isso é um amor antigo. [risos]

G1 - Como o senhor avalia a gestão Pinotti?
Vogt –
Conheço ele há muitos anos. Desde os anos 70. O que houve foi a situação crítica em virtude dos acontecimentos.

G1 – O senhor pretende manter projetos da antiga gestão?
Vogt -
Há vários projetos que vinham sendo feitos. Um deles é um convênio com a Unesp, para bolsas a alunos-professores dos cursinhos. E já está funcionando. Há outros dois projetos da Unesp. Um deles é para a permanência de estudantes da universidade e outro chamado de universidade vertical, que diz respeito a um universo de 5 mil estudantes. Há também um projeto sobre o banco de dados do sistema de ensino superior do estado, otimizando dados disponíveis do Governo federal e das secretarias. Vamos avaliar isso tudo. O do banco de dados é importante.