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31/03/11 -  00h01
Ana Okada

Em São Paulo


Atualizado às 20h01
 

O reitor da USP (Universidade de São Paulo), João Grandino Rodas, está isolado politicamente entre os setores da universidade. A popularidade do dirigente de uma das mais conceituadas instituições de ensino superior do Brasil está em baixa entre as entidades que representam funcionários, professores e estudantes.

Sempre fez parte do jogo político a reitoria ter oposição do sindicato dos trabalhadores, o Sintusp, enfrentar disputas com a associação dos professores, a Adusp, e receber reivindicações de eleições diretas para reitor feitas pelos estudantes, por meio do DCE (Diretório Central de Estudantes) e pelos centros acadêmicos. No entanto, uma série de decisões tomadas por Rodas tem deixado a relação mais tensa.

A rejeição ao reitor é "unanimidade", diz o diretor do Sinstusp, Magno de Carvalho: "Em 33 anos de USP, nunca vi isso. Nunca tivemos rejeição assim entre funcionários como estamos tendo agora; até quem nunca reclamou, agora, reclama."

Outra queixa é que falta "discussão e democracia", segundo as entidades. Procurada pelo UOL Educação desde que Rodas assumiu o posto, a assessoria de imprensa disse que o reitor não tem tido "agenda disponível". João Grandino Rodas foi empossado em janeiro de 2010. A escolha por seu nome foi uma decisão do então governador José Serra (PSDB-SP) e desrespeitou a votação dos conselhos da universidade, em que Rodas ficou em segundo lugar.

Na época da posse, Rodas assumiu prometendo mais diálogo. "Universidade é, por definição, diversidade e debate de ideias", disse. A USP havia passado pelo confronto entre policiais e estudantes em junho de 2009 -- algo inimaginável num cenário de defesa da diversidade do pensamento e do debate como é a instituição.

Decisões tomadas "na calada da noite"

Alguns fatos têm deixado o clima mais pesado. Exemplos disso são a demissão de funcionários aposentados que estavam na ativa (feita em período de férias), a transferência de alguns servidores para escritórios fora da Cidade Universitária (sem a consulta aos funcionários) e o desalojamento de grupos de estudos (sem garantias de que eles terão outra locação para suas atividades).

"Essa mudança para outros prédios nos surpreende. Mudar funcionários para locais com 10 ou 15 km de distância da Cidade Universitária é uma medida autoritária e, aparentemente, desnecessária", diz o presidente da Adusp (Associação dos docentes da Universidade de São Paulo), João Zanetic.

O valor dos imóveis que serão utilizados pela administração da USP fora do campus foi questionado tanto pelo Sintusp quanto pela Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), que convocou o reitor na semana passada para responder a reclamações de gasto de dinheiro público sem necessidade e ausência de transparência e diálogo.

Rodas não compareceu e enviou um representante, que não se pronunciou e saiu antes do término da sessão, pois teria sido ofendido pelos participantes.

Documento apresentado na audiência mostrava que o valor dos locais utilizados fora do campus é de mais de R$ 35 milhões. "Achamos absurdos esses valores, e é tudo muito estranho, não sabemos se isso foi aprovado no CO (Conselho Universitário)", diz Carvalho. Segundo informativo da universidade, a USP arcou apenas com "gastos de manutenção e de segurança", sem informar o valor da operação.

Estudantes

Houve também decisões que atingiram projetos dos estudantes, que estão apreensivos com a previsão da demolição dos chamados "barracões", construções que abrigam, dentre outros, os núcleos de estudo da consciência negra e a vivência do centro acadêmico dos alunos da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).

"Para você ter uma ideia, criaram a toque de caixa, uma comissão de demolição, totalmente unilateral. O CA da Veterinária foi destruído assim", explica o diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes), Thiago Aguiar. Segundo ele, não foi oferecido nenhum lugar para a transferência dessas entidades.

De acordo com informativo da USP, os barracões estão em "local deprimente do campus" e foram "construídos provisoriamente, com quase cinqüenta anos, cobertos com telha de amianto e cujo sistema de drenagem externa propicia acumulação de água". No entanto, a presidente do centro acadêmico da FEA, Maíra Madrid, diz que a área utilizada pela FEA foi reformada recentemente pela iniciativa privada. "A gente espera manter a vivência, e se for para sair, que tenhamos outro lugar com condições tão boas quanto as que temos agora", diz