CARTA ABERTA A COMUNIDADE ACADÊMICA.
"Do rio que tudo arrasta se que é violento, mas ninguém diz
violentas as margens que o
comprimem" Bertolt Brecht.
O ano de 2007 iniciou-se com um forte golpe ao Estado Democrático de
Direito. O então governador do estado de São Paulo, José Serra, iniciou
seu governo demonstrando a que vinha. Passando por cima do parlamento,
prática corriqueira dos regimes autocráticos, o governador a partir de
decretos deferiu pesados golpes sobre as Universidades Estaduais
Paulistas, ferindo sua autonomia.
No dia 01 de janeiro de 2007 José Serra, no uso de suas atribuições
determinou, através dos Decretos nº51460; nº51461; nº51471; nº51636;
nº51660: a transferência das Universidades Estaduais Paulistas para a
Secretaria de Ensino Superior; o Centro Paula Souza e a Fapesp para a
Secretaria de Desenvolvimento; a determinação de que o secretário do
ensino superior fosse o presidente do Cruesp; a criação de uma dicotomia
entre pesquisa operacional e pesquisa básica; o veto a toda e qualquer
contratação de pessoal para as universidades estaduais, entre outros
órgãos e autarquias públicas; a delimitação de todos os gastos públicos
estaduais à programação orçamentária da despesa do estado e alterações a
serem feitas via sistema eletrônico, o que implica o engessamento do
orçamento da universidade que fica submetido ao poder executivo
estadual; vincula a comissão de política salarial ao governador do
estado, estando às reivindicações salariais e a revisão de vantagens e
benefícios aos critérios da mesma. Além da instituição do SP/PREV que
representa forte ataque ao funcionalismo público como um todo.
Embora, os decretos declaratórios de 31/05/2007 representem,
aparentemente, um recuo do governador, na sua essência ainda compromete
a autonomia universitária. Uma vez que a Secretaria do Ensino Superior
se mantém inconstitucionalmente, já que fere, dentre outros pontos, a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
A resposta a princípio foi apática. Coube ao movimento estudantil e uma
pequena fração dos docentes levantarem a bandeira da Universidade
Pública, gratuita, de qualidade e autônoma. Demonstrando, através das
diversas ocupações, que teve como epicentro a USP, o descontentamento
geral com relação aos decretos e o processo de sucateamento implantado
pela gestão tucana outrora. A faca na garganta das universidades
estaduais paulistas é um elemento constante desde o governo Covas, não
cabendo outro caminho, já que as portas do diálogo sempre estiveram
fechadas, senão a mobilização seja através de ocupações seja através de
greves.
Neste sentido, a recusa dos magníficos reitores em negociar com o
movimento grevista, utilizando-se do argumento: “de que não negocia sob
pressão”, é falsa, já que quem sofre tal pressão, diuturnamente, são as
Universidades Estaduais Paulistas, tanto por meio de seus respectivos
gestores quanto pelo governador do estado. A materialização do movimento
grevista, através de ocupações, representa uma resposta clara ao
sucateamento histórico sofrido há muito pela universidade.
Desde o inicio o então governador José Serra deixou claro como seriam
tratados os movimentos sociais, seja de qual natureza for. Os últimos
fatos ocorridos na Unesp de Araraquara só reforçam o recado dado pelo
governador. Portanto, as prisões dos mais de 120 estudantes de
Araraquara não representam meramente uma ofensiva contra o movimento
estudantil, mas e substancialmente, contra toda e qualquer forma de
organização e mobilização, dentro ou fora da universidade.
A repressão como mecanismo político, tanto por parte do governador como
por parte dos diretores e reitores das Universidades, de combate ao
movimento grevista, em especifico o universitário, representa uma
concepção de universidade autocrática, que abre mão do diálogo, da
reflexão, das discussões... e opta pela força repressiva do Estado
moderno. O que demonstra a falência da Universidade Pública que não
consegue resolver internamente seus problemas e recorre à força externa.
Nesse sentido a atuação que os gestores públicos esperam do movimento
estudantil é a ética do silêncio. Mas como silenciar diante do que nos
angustia, já que o ato de questionar é pressuposto indelével da própria
universidade. E se o questionamento como ato do pensar finda no
silenciar, cantaremos a angustia de não sermos mais humanos. Pois o que
diferencia o homem do animal é justamente sua capacidade de ideação,
reflexão e porque não, de questionamento: É o animal ou é o homem? É o
rio que violenta as margens ou são as margens que violentam o rio?
Estudantes da Unesp-Marília.
Diretório Acadêmico XV de Março: gestão “Reviravolta”.
Grupo de Estudos e Político: “Socialismo ou Barbárie”.