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Consolidada
- 30/3/2005 18h32
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Servidores
criticam poderes de centrais sindicais
Em audiência pública
na manhã desta quarta-feira na Comissão de Trabalho, Administração
e Serviço Público, representantes de servidores públicos se
disseram preocupados com a concentração de poder nas centrais
sindicais prevista na Reforma Sindical, em debate na Câmara.
As principais mudanças propostas pelo Governo no modelo sindical
brasileiro constam de um anteprojeto de lei que o ministro do
Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini, promete enviar tão logo
seja aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 369/05,
do Poder Executivo, que já tramita na Câmara. Sem as alterações
previstas nessa PEC, o anteprojeto não pode começar a tramitar,
porque seria considerado inconstitucional. Caso ambos sejam
aprovados da maneira como estão, as centrais serão legalizadas e
poderão conferir legitimidade a sindicatos sem representatividade
(ou seja, com menos de 20% dos trabalhadores do setor filiados)
por meio de um artifício denominado "representação
derivada". Outra mudança favorável às centrais sindicais
é que seriam alçadas à cúpula do sindicalismo brasileiro,
sendo considerados os órgãos de representação máximos, no
lugar das confederações sindicais.
Hegemonia das centrais
O presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil
(CSPB), João Domingos Gomes dos Santos, reclamou que as centrais
vão ocupar espaços na representação dos trabalhadores que
deveriam ser dos sindicatos de base. "O modelo de organização
sindical proposto é imprestável em seu conteúdo porque inverte
a matriz da representação, que passa a ser as centrais",
criticou.
O sindicalista chamou de excrescência a possibilidade de as
centrais criarem sindicatos sem qualquer filiado. "É um
enorme retrocesso", reclamou. "Para combater o
sindicalismo fantasma, cria-se o sindicato biônico",
sentenciou.
O presidente do Sindicato dos Técnicos da Receita Federal (Sindireceita),
Paulo Antenor de Oliveira, também disse que o que mais preocupa a
sua entidade é a hegemonia das centrais. "Os trabalhadores
precisam ter o direito de decidir se querem ou não se filiar a
uma central", disse.
O presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
Previdência (Anfip), Marcelo Oliveira, afirmou que o "grande
plano" da Reforma Sindical é o controle do movimento dos
trabalhadores pelas centrais sindicais.
Centrais x confederações
O deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS) discordou dos três
debatedores: "os trabalhadores só vão atribuir sua
representação às centrais se quiserem", afirmou. Marco
Maia (PT-RS) concorda. Para ele, as mudanças propostas vão
beneficiar os sindicatos representativos. "Não é uma
proposta das centrais nem do Governo nem do Ministério do
Trabalho". Alceu Collares (PDT-RS) ironizou: "Então
precisamos descobrir o fantasma autor desse projeto".
Collares indagou sobre o papel das centrais em oposição ao papel
das confederações. Para o parlamentar, a divisão de atribuições
não está clara.
João Domingos disse que a proposta do Fórum Sindical dos
Trabalhadores (FST), entidade também representada por ele e que
representa confederações, federações e sindicatos de
trabalhadores, prevê que as centrais desempenhem papel de
coordenação política na condução de interesses comuns de
organizações e que as confederações representem classes de
trabalhadores em nível nacional. As propostas da FST foram incluídas
no Projeto de Lei 4554/04, subscrito por 196 deputados, que
tramita na própria Comissão de Trabalho. Já a Reforma
pretendida pelo Governo acaba submetendo as confederações e as
demais instâncias das organizações sindicais às centrais.
Sindicatos pulverizados
A possibilidade de que seja constituído mais de um sindicato por
categoria, também incluída na Reforma Sindical, foi criticada
pelo vice-presidente da Confederação dos Servidores Públicos do
Brasil, Sebastião Soares. Em sua opinião, a medida enfraquece
ainda mais os sindicatos em relação aos patrões. "Nossa
fragilidade se tornaria ainda maior se fragmentássemos um
sindicato em cada repartição, um sindicato em cada empresa.
Seria a pulverização do movimento sindical. A unicidade é a
forma que o movimento tem de enfrentar os problemas daquela
categoria", propõe.
Tarcísio Zimmermann também sugeriu a existência de um sindicato
único por categoria quando esse sindicato comprovar a sua
representatividade.
Organização no trabalho
Uma das poucas unanimidades entre os representantes dos
trabalhadores era a organização no local de trabalho, que
garante aos trabalhadores o direito de eleger representantes que
atuem dentro das próprias empresas. Entretanto, hoje começaram a
aparecer dissonâncias: "a única coisa defensável na
proposta do Governo é o poder de negociação no local de
trabalho, mas não do jeito que está", disse João Domingos.
Para o sindicalista, os representantes dos trabalhadores dentro da
empresa vão ficar vulneráveis ao poder dos patrões. Domingos
também mostrou-se preocupado com a possibilidade de esses
representantes acertarem acordos que retirem direitos dos
trabalhadores, por causa do fortalecimento da negociação
pretendida pelo Governo.
Tarcísio Zimmermann tentou intervir para explicar que, pelo
projeto do Governo, os representantes dentro da empresa vão ter
de notificar os sindicatos em cinco dias sobre a matéria a ser
negociada e poderão ser desautorizados por eles. Mas João
Domingos foi categórico: "Quem tem de fazer a negociação
é o sindicato, rapaz."
Já Sebastião Soares criticou o Governo por não incluir na
Reforma a possibilidade de os servidores públicos buscarem
negociações coletivas.
Contribuição compulsória
Outro aspecto que norteou as discussões na audiência pública de
hoje foi o fim do imposto sindical, previsto na PEC do Governo. A
medida foi defendida por Tarcísio Zimmermann como um dos pontos
positivos da Reforma "porque se coaduna com a liberdade
sindical". Marco Maia concordou com o seu colega de partido e
disse que os sindicatos atuantes não vão ter problema para se
manter porque serão mantidos espontaneamente pelos próprios
filiados.
João Domingos, que criticou vorazmente a extinção do imposto,
acabou revelando que apenas 5% dos sindicatos que ele representa
cobram a contribuição.
Reportagem - Edvaldo Fernandes e Sílvia Mugnatto
Edição - Patricia Roedel
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência)
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