Em
entrevista concedida na manhã desta quinta-feira (12), logo depois
de despedir-se do presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, o
presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou que a Casa tem
recursos para pagar o reajuste de 15% concedido aos seus servidores
por meio de projeto de lei que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vetou na noite de quarta-feira (11). Referindo-se à
possibilidade de derrubada do veto, Renan disse que, assim como o
Executivo tem o direito de vetar, o Legislativo tem o direito de
votar.
- Claro que o Executivo tem o
direito de vetar; claro que o Executivo tem o direito de fazer um
acordo e descumprir o acordo. Agora, não foi comigo, foi com a Mesa
anterior. Mas o Legislativo tem o direito de votar, e vamos exercer
na plenitude esse direito de votar - adiantou.
De acordo com Renan, não é
verdade que o Senado não tem orçamento para pagar o reajuste dos
seus servidores. Ele disse que já foram pagos R$ 25 milhões desse
reajuste e que, para 2005, está prevista a cifra de R$ 103 milhões
para essa despesa.
- O Senado tem caixa, o Senado
não precisa suplementar nada, absolutamente nada. Nós cortamos
custos dentro da nossa política de austeridade, não aumentamos salários
dos senadores, não ampliamos verbas de gabinete, aliás, nem temos
verbas de gabinete - afirmou.
Renan insistiu no fato de que
esse reajuste foi conseqüência de aumento - entre 15% e 37% -
concedido pelo Executivo, em 2004, a seus servidores. Ele aludiu a
acordo realizado pelo governo Lula com o então presidente do
Senado, José Sarney, que resultou no reajuste dado aos servidores
do Congresso e que foi pago em novembro, dezembro e no 13º salário
a que tiveram direito no ano passado.
O presidente do Senado também
explicou que foi em razão de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter
entendido que o Legislativo não podia dar esse reajuste por decisão
da Mesa Diretora que as duas Casas do Congresso aprovaram projeto de
lei nesse sentido em Plenário. Daí por que o texto foi enviado ao
Palácio do Planalto, a fim de ser sancionado pelo presidente Lula.
- Coube a esta Mesa, por decisão
do STF, apenas levar a matéria a votação em Plenário. Cumprimos
uma decisão do STF, que disse que a medida era legal, mas que
precisava ser votada em Plenário - explicou.
Renan considerou incompreensível
que o Executivo faça um acordo e, alguns meses, depois vete uma
decisão plenária resultante do mesmo acordo. Em sua opinião, o
ideal seria que esses acordos fossem cumpridos, não só com o
Legislativo, mas também com os militares e outros segmentos que não
tiveram aumentos justos.
O presidente do Senado reiterou
que, além de trabalhar para dar qualidade aos gastos do Senado,
tendo já cortado R$ 30 milhões nos gastos da Casa, tem se pautado
pelo equilíbrio e responsabilidade exigidos pelo seu cargo.
- Não é do meu estilo fazer
bravata. Eu tenho que ter cada vez mais responsabilidade e equilíbrio
para não agravar ainda mais essa relação que unilateralmente tem
sido agravada. Falei algumas vezes por telefone com o presidente da
República e com todos os ministros sobre o que estava acontecendo,
de forma que não é por falta de explicação que isso está
acontecendo - disse.
Renan também se referiu à
informação de que o presidente da Câmara dos Deputados, Severino
Cavalcanti, aceitou o veto presidencial ao reajuste dos servidores
desde que, em compensação, possa aprovar um plano de carreira
aguardado pelos funcionários daquela Casa.
- Eu não aceito como compensação
a reestruturação salarial. Eu não aceito compensação. A
reestruturação tem que ser feita para dar eficiência ao serviço
público, com as progressões salariais aprovadas como conseqüência
do mérito - enfatizou.
Sobre a informação de que
Severino Cavalcanti teria também, antes do veto, cogitado retirar o
projeto de reajuste enviado à sanção, Renan considerou isso um
absurdo.
- Ora, quem está orientando
isso não entende de nada. Como é que você pode retirar um projeto
já pago, executado desde o ano passado e aprovado nas duas Casas? Não
tem sentido isso - declarou.
Quando informado de que o
ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo,
considerou o reajuste de 15% inconstitucional, por não estar
previsto no Orçamento da União, Renan refutou: "O Paulo
Bernardo não sabe nem o que aconteceu, por isso falou
besteira".
Para derrubar um veto
presidencial, é necessário quórum de maioria absoluta de
deputados e senadores em sessão conjunta do Congresso. A maioria
absoluta no Senado é de 41 votos, enquanto na Câmara é de 257
votos. Mas não é praxe e é até muito raro derrubar um veto
presidencial no Legislativo. |