Manifesto da Congregação da
Faculdade de Educação da Unicamp em relação
às punições referentes à ocupação da DAC
A Congregação da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas, em sua 216a
reunião ordinária, no dia 26 de setembro de
2007, aprovou, por unanimidade, esta
manifestação pública acerca dos recentes
desdobramentos no interior da universidade
relativos à ocupação do espaço institucional da
Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAC), ocorrida
por deliberação do movimento estudantil
organizado, no contexto da última greve de
professores, funcionários e estudantes das
universidades públicas paulistas.
Foi com estranhamento, pesar e apreensão que
assistimos à instalação de uma comissão de
processo sumário, mesmo após a comissão de
apuração de responsabilidades ter registrado que
nenhum dano material ocorreu no processo de
ocupação da DAC. Estas ações, expressamente
legalistas, intimidadoras e orientadas por um
desejo inadmissível de criminalização do
movimento estudantil e de viabilização de
punições exemplares, pautam-se em disposições
disciplinares internas que, infelizmente,
amparadas pelo Regimento Geral da UNICAMP, não
são condizentes com os princípios democráticos
relativos às liberdades de organização,
manifestação e expressão, garantidas pela
Constituição brasileira em vigor.
Ao mesmo tempo, tais práticas disciplinares
não deixam espaço para o reconhecimento do
caráter político de resistência organizada em
que se pautaram, não só as ações do segmento
estudantil de ocupação simbólica de espaços
institucionais, mas, também, as de docentes e
funcionários no interior de um movimento mais
amplo de mobilização da comunidade
universitária, em defesa da autonomia das três
universidades públicas paulistas, fortemente
agredidas pelos decretos do Governo do Estado,
autoritários,
anti-democráticos e de natureza
intervencionista.
Acabamos de celebrar quatro décadas de vida
universitária na Unicamp. Nossa história
política e institucional registra, no
transcorrer desses 40 anos, inolvidáveis e
destacados momentos de luta, de enfrentamentos e
de defesas, coletivas e sociais, de direitos à
expressão cultural, de manifestação política e
identidade pluralista. Tenhamos a dignidade de
reforçar essa identidade democrática tão
arduamente conquistada. Qualquer punição à
manifestação política dos estudantes por ocasião
da greve que marcou nossa história institucional
neste ano de 2007 não será coerente com os
princípios norteadores de uma universidade que
tem assumido, historicamente, a missão de educar
para a liberdade, de formar para o respeito à
diversidade e de atuar na direção do bem público
e comum. As liturgias de vigiar e punir se
prestam mais a identificar sociedades
disciplinares e totalitárias, distantes da
natureza cívica e democrática de uma comunidade
de pesquisadores, educadores e espíritos
emancipados.
Se no interior destas lutas pela autonomia
universitária, um aluno for punido, justamente
por ter-se envolvido em um movimento legítimo e
coletivo,
qualquer que seja a punição, perde a Unicamp -
enquanto universidade
pública, gratuita e de qualidade -, perde a
democracia.
Nesse sentido, a Congregação da Faculdade de
Educação não só torna pública a sua indignação
em relação à instalação e à delegação de poder
institucional à comissão de processo sumário
para deliberar sobre o episódio específico de
ocupação, como também vem solicitar ao Magnífico
Reitor da Unicamp a imediata suspensão das
atividades dessa comissão e o compromisso
público com a não punição de quaisquer
estudantes envolvidos com
o episódio da ocupação simbólica da DAC.
Trata-se, portanto, de momento propício
para, ao invés de reforçar as práticas
punitivas, envidar esforços para desencadear,
através dos meios institucionais vigentes na
UNICAMP, uma ampla revisão de seus mecanismos de
cunho disciplinar, militarista ou inquisitorial,
para a apropriação de formas colegiadas
dialógicas, sensíveis, de expressão pública das
diferenças e contradições, próprias de uma
sociedade que tenta superar as dominações.
Congregação da Faculdade de Educação da
Unicamp
26 de setembro de 2007.