Assembleia da Adusp
quarta-feira, 25 de junho, às 15 horas
Auditório da Faculdade de Educação - bloco B
A Comissão de Mobilização da Adusp, por decisão da Assembleia
Geral, elaborou uma carta em resposta à carta do reitor aos
estudantes.
Carta Aberta ao Professor Marco Antonio Zago, reitor
da Universidade de São Paulo.
Prezado professor,
Em texto enviado à comunidade estudantil uspiana, o
senhor cita algumas das medidas que vem tomando para
sanear as contas da universidade, e diz que “esses
procedimentos podem ser aperfeiçoados e ampliados”,
acrescentando ainda o desejo de poder contar “com as
sugestões de todos”.
Pois bem, vamos às sugestões solicitadas, várias
delas já apresentadas anteriormente a V. Sa..
Em primeiro lugar, gostaríamos de lembrá-lo de que o
repasse da arrecadação do ICMS para as universidades
públicas do Estado de São Paulo ocorre de maneira
irregular ao longo do ano. No último triênio o
crescimento observado de janeiro a dezembro girou
em torno de 20%. Quando se refere ao dispêndio com
salários – não entendemos bem por quê – o senhor
faz o cálculo baseado no repasse de um único mês, no
início do ano, ou seja, com valor bem abaixo de sua
média anual. Além disso, ao contrário do que alegam
alguns, a arrecadação do ICMS vem crescendo ano a
ano.
Há anos o Fórum das Seis e a Adusp vêm denunciando
que o repasse realizado pelo Governo do Estado
desconsidera frações expressivas do ICMS, em
particular o montante referente à habitação. Além
disso, as três universidades têm crescido nas
últimas décadas. Trata-se de novas unidades, de
novos campi e de um número sempre crescente de
estudantes nos programas de graduação e de
pós-graduação. Para citar apenas dois exemplos
recentes no âmbito da própria USP: na zona leste da
cidade de São Paulo temos a criação da EACH, que
conta hoje com uma comunidade acadêmica de
aproximadamente 5 mil pessoas, e temos a
incorporação da Escola de Engenharia de Lorena. Não
obstante, a despeito da promessa de aumento do
repasse para custear as despesas com essas unidades,
a USP não recebeu nem um tostão a mais.
Sua colega, a professora Marilza Vieira Cunha,
reitora em exercício na Unesp e atual presidente do
Conselho de Reitores das Universidades Estaduais
Paulistas, já se pronunciou sobre a necessidade de
aumento dos recursos para as universidades e diz que
fará gestões pela mudança da alíquota do ICMS e por
seu repasse integral, sem os cortes que o Governo do
Estado vem realizando.
E o senhor, professor? Qual tem sido a sua postura
diante da crise? Em entrevista recente a um jornal
de grande circulação, o senhor afirma estar
plenamente satisfeito com as verbas recebidas.
Nenhuma palavra sobre a injustiça dos cortes no
montante do imposto que sustenta a pesquisa, a
docência e as iniciativas de extensão do
conhecimento acadêmico. São cerca de 1,4 bilhões de
reais, se descontarmos o montante referente à Nota
Fiscal Paulista, que o governo estadual tem deixado
de repassar às universidades desde 2008. Nenhuma
palavra sobre a necessidade de aumento da alíquota
frente ao crescimento e às novas responsabilidades
assumidas pelas instituições paulistas.
Em sua campanha para a eleição como reitor, o senhor
alardeou aos quatro ventos que, caso eleito, iria
pautar sua gestão pelo diálogo e pela transparência.
Será preciso mais uma vez lembrá-lo de que a
comunidade da EACH já protocolou dois pedidos de
conversa com o senhor, sem que tenha recebido uma
única resposta? Está o senhor ciente da gravidade
dos problemas enfrentados por uma população
acadêmica de milhares de pessoas, no momento
desprovidas de lugar minimamente adequado para o
exercício da docência e da pesquisa? Está lembrado
de que a administração universitária até o momento
não informou os colegas, funcionários e alunos da
EACH sobre o lugar onde irão trabalhar e estudar a
partir do próximo dia primeiro de agosto? É esse o
diálogo que propõe?
Agora o senhor anuncia mais um gasto, desta feita
com uma “auditoria externa”. Gostaríamos que o
senhor explicasse por que, afinal, se recusa a abrir
as contas da universidade para conhecimento da
comunidade interna. Nos dicionários que costumamos
consultar, o termo transparência, prodigamente
utilizado por V. Sa., não deixa margem para
dubiedades. Significa simplesmente a qualidade ou
condição daquilo que se deixa ver inteiramente, vale
dizer, daquilo que se revela a todos e não a uma
seleta minoria de privilegiados. A USP tem uma série
de contratos a pagar, estimados em mais de 600
milhões de reais. Trata-se de compras e da
contratação de serviços que, segundo o seu próprio
relato, foram realizados na surdina por seu
antecessor. Diz o senhor que João Grandino Rodas não
teria comunicado esses gastos nem mesmo aos
pró-reitores e, além disso, teria evitado ou
impedido sua fiscalização pelo Conselho
Universitário. E no entanto, a Reitoria opta por
honrar compromissos que o senhor, desde o início de
seu mandato, coloca sob suspeita.
O maior patrimônio da universidade, constituído pela
dedicação, competência e experiência de seus
servidores docentes e técnico-administrativos pode,
a seu ver, ser desconsiderado no momento da
reposição salarial. Na hora de pagar empreiteiras e
serviços contratados, todos acobertados por um
sigilo incompreensível, desaparece o empenho em
promover cortes. Por quê?
Sua gestão iniciou-se há apenas cinco meses. Antes
de naufragar como dirigente universitário, ouça um
bom conselho:
Não se apequene diante da crise.
A USP cresceu, e muito, para prover mais vagas em
seus cursos e para cobrir áreas antes não atendidas
pelo ensino público, gratuito e de qualidade. Não
faça coro com um governo que já sucateou as escolas
da educação básica no estado de São Paulo. Faça coro
com aqueles que defendem a USP e cobram os recursos
necessários para mantê-la como instituição de ensino
superior de alta qualidade.
Abandone sua atitude subserviente ao Governo do
Estado e vá à Assembleia Legislativa. Exerça ao lado
de sua colega de Cruesp a pressão necessária para
que a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015
contemple de fato as necessidades financeiras da
USP.
Arregace as mangas, vá ao Palácio dos Bandeirantes e
cobre do Governo do Estado o dinheiro a que a USP
tem direito.
Assuma suas responsabilidades diante da greve, com
honradez e integridade. Não se trata de favor, mas
de uma obrigação moral e legal sua, negociar com
seus colegas e funcionários, de maneira franca e sem
subterfúgios.
Seu outro parceiro de Cruesp, o professor José Tadeu
Jorge, reitor da Unicamp, já disse publicamente que
é contra o arrocho salarial e que desejaria
negociar. A afirmação implica tacitamente o fato de
que a intransigência na mesa do Cruesp corre por
conta de V. Sa. Aproveite a oportunidade para
demonstrar disposição verdadeira e incondicional
para a negociação.
Finalmente, gostaríamos também de alertá-lo para o
fato de que – ao contrário do que o senhor insinua
no email enviado aos estudantes – a greve em curso é
também deles, dos estudantes da USP. Também eles não
aceitam os termos de seu “diálogo” sem negociação e
da “transparência” sem abertura das contas.
Saudações universitárias,
São Paulo, 16 de junho de 2014
Comissão de Mobilização da Adusp