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IstoÉ e Tarso Genro: Ignorância e má-fé.
Sob o título “Abaixo a ignorância e a má-fé”, o Ministro da Educação
desfila uma série de acusações (desavisados, ultra-radicais, sovietistas, visão
feudal da sociedade, etc.), mas não consegue responder às questões centrais.
Em uma curiosa entrevista onde as perguntas parecem ser feitas para que o Sr.
Genro destile o seu azedume e a sua idiossincrasia contrários ao debate, ele
parece pontificar. Mas nada explica!
Quem falou, a sério, em “sovietizar” a universidade como pergunta o entrevistador? Ninguém! Mas isso permite ao Ministro (um genuíno ex-radical petista) afirmar que o governo está preservando o papel da sociedade na universidade. E por que isso? Para legitimar o governo falando da Rússia Soviética onde o Estado esmagou a sociedade. E o que isso tem a ver com a reforma? Nada, é claro!
Sem nenhum rigor ético, político e intelectual Tarso Genro avança um amálgama político juntando na mesma posição - os opositores - o ANDES-SN, o PSTU e a AMBES. Contrariando qualquer análise realista afirma que o ANDES-SN, sindicato que tem 72 mil docentes universitários sindicalizados, é “ligado ao PSTU”, ignorando a presença majoritária de companheiros do PSOL, do PT e independentes em sua diretoria e que a mesma é apenas executora das deliberações das instâncias democráticas do sindicato. As correntes político-sindicais, legítimas como toda participação de cidadãos possuidores de opiniões, têm, no nosso Sindicato, os Congressos, os Conselhos Nacionais e as Assembléias das nossas Seções Sindicais como espaço democrático de deliberação. Ao fazer afirmações ideológicas sem base de realidade o ministro desqualifica a democracia, que diz defender, ao colocar a militância partidária (atributo da cidadania) como inimiga, por princípio, da análise e do debate da reforma.
Considera ultra-radicalismo e “bobagem”, no melhor estilo Fernando Henrique-Paulo Renato, a análise feita por alguns dos melhores educadores brasileiros e tema de inúmeras Teses de Doutorado e Dissertações de Mestrado sobre a vinculação Banco Mundial-OMC-FMI/projeto de Reforma. Talvez ele devesse lembrar que os sítios daquelas entidades, onde projetos essencialmente similares aparecem, são acessíveis a quem se interessar sobre o assunto. Lembremos, por outro lado, que no governo de Fernando Henrique o hoje partido governante praticava esse tipo de críticas sem ser “ultra-radical” ou coisa do gênero.
Ao mesmo tempo em que sataniza os críticos O ministro afirma que “Soberano é o Estado”, ignorando que, segundo a melhor tradição liberal, a soberania estatal decorre da vontade popular e do cumprimento da Constituição, coisa que, reiteradamente, o governo não o faz a pretexto da governabilidade. Afirmar que o Poder público faz a avaliação da qualidade no ensino privado é mera falácia.
Se somos poucos e desavisados porque, então, o ódio e o anticomunismo?
O fim da entrevista é sintomático. Primeiro pela conclusão segundo a qual se direitistas e esquerdistas o atacam é porque o projeto é bom! Fantástico! Não passaria em uma elementar prova de lógica, pois apresenta como silogismo o que é um mero sofisma. E, por fim, e isso é decisivo, conclui que a reforma não se inspira na Revolução Soviética, mas..., na Francesa... “Só não vê isso quem tem uma visão feudal da sociedade”. Ultra-radicais com visão feudal?
Quanto a Istoé, a revista tem o direito de ter sua posição, ninguém o objeta! Mas o que se publicou no quadro “O que pensa a sociedade civil” vai além do imaginável.
Será que se pensa que neste país ninguém lê ou tenha capacidade de crítica?
No que se refere ao ANDES-SN
declara-o “ligado ao PSTU”, ignorando como já salientamos, a diversidade de
posições, os procedimentos democráticos do Sindicato e a existência de vida
inteligente na Universidade. Dizer-nos rompidos com a CUT é posicionar-se,
claramente, sobre uma das polêmicas do nosso próximo Congresso. E vai
por aí adiante. Porque fomos privilegiados nesse combate à liberdade de
expressar as diferenças?
Não é necessário voltar a comentar a entrevista-companheira, na qual as perguntas parecem feitas para permitir o deslocamento da fala ministerial até atingir as fantásticas conclusões a que ele chegou. E os “olhos” da matéria? Estes privilegiaram uma visão preconceituosa a pretexto, talvez, de uma técnica jornalística de chamar a atenção do leitor.
Mas é preciso salientar que,
fugindo à melhor ética jornalística, sequer se buscou o contraditório,
fazendo assim a construção do “falou, está falado”. A liberdade
constitucional de opinião não é, nem nunca poderia ser, um salvo-conduto para
legitimar esse tipo de leitura que pune os que pensam diferentemente. Não, pelo
menos, em um regime que se pretende democrático. Ao exigir o direito de
resposta o ANDES-SN o faz para vir a público e expressar sua análise rigorosa
e cientificamente elaborada.
Brasília, 2 de fevereiro de 2005
Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional