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Divulgação
(A partir da esq.): Elizabeth, Karen. Cecília, Jéssica e Meline
Pesquisa pretende baratear álcool feito do bagaço da cana

Projeto da Unesp recebe apoio de programa de bioenergia
06/02/2009
Pesquisadores do Instituto de Química (IQ), câmpus de Araraquara, buscam aperfeiçoar a produção de álcool a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Eles investigam fungos que preparam o bagaço para a fermentação, selecionam as melhores leveduras e criam métodos rápidos e baratos para a indústria monitorar o fermento. Pela importância econômica, seus estudos foram selecionados para participar do Bioen (Programa de Pesquisa em Bionergia), programa de financiamento especial da Fapesp.

Parte dos projetos selecionados pelo Bioen, cujo objetivo principal é incentivar pesquisadores em universidades e empresas a desenvolverem a produção de álcool de cana-de-açúcar, foi divulgada no dia 4 de fevereiro. Entre eles, está o projeto “Produção de etanol a partir do bagaço de cana: tratamentos enzimáticos, ensaios microbiológicos para avaliação da toxidez e tolerância das leveduras a elevações de temperatura e acidez do processo”, desenvolvido pelos pesquisadores Cecília Laluce, Karen de Oliveira, Sandra Sponchiado e Eduardo Cilli, do Departamento de Bioquímica e Tecnologia Química do IQ.

Desperdício – Atualmente, no processo de produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, a indústria brasileira aproveita apenas o açúcar. Assim, dois terços da biomassa, na forma de bagaço e palha, são desprezados no processo. Para transformar essa enorme biomassa em álcool combustível – etanol -, os pesquisadores buscam técnicas apuradas que permitam tal procedimento.

Segundo Cecília, já existem métodos para extrair etanol da celulose, a substância principal do bagaço. Mas eles ainda são ineficientes ou caros. A celulose precisa ser quebrada em moléculas menores para que os microorganismos do fermento consigam digeri-la e transformá-la em etanol. Essa quebra da celulose chama-se hidrólise. A hidrólise convencional é feita com ácidos. Infelizmente, a acidez é mortal para o fermento.

Um método recentemente desenvolvido nos EUA é menos tóxico às leveduras, ou fermento biológico. Ele utiliza enzimas secretadas por bolores para decompor o bagaço da cana. “O custo desse processo, porém é bastante alto”, explicou Cecília. Segundo a docente do IQ, Sandra Sponchiado e sua aluna Marina Marques estudam a hidrólise do bagaço de cana por preparações de fungos de baixo custo.

Enquanto isso, a pesquisadora de pós-doutorado Karen de Oliveira desenvolve métodos rápidos e simples para avaliar a toxicidade dos componentes da hidrólise de bagaço e o efeito deles na atividade das leveduras. “Desenvolver ensaios rápidos que em 15 ou 30 minutos dizem qual o estado das leveduras é o que interessa para a indústria”, contou Cecília. “Mas antes disso, é preciso conhecer como age cada tóxico em contato com o microorganismo”, explicou.

O docente Eduardo Cilli colabora analisando a evolução do processo de hidrólise e os produtos químicos criados durante o processo. Outro obstáculo para o aumento da produção de etanol é controlar a elevação da temperatura dos tonéis de milhões de litros onde a mistura o bagaço hidrolisado fermenta. “O fermento opera bem entre 30 a 37 °C”, explicou Cecília. “Passando disso, o álcool começa a ‘fritar’ os microorganismos do fermento, dissociando suas membranas”.

Os sistemas de refrigeração são caros e difíceis de controlar. Cecília e seus colaboradores vêm criando linhagens de leveduras capazes de promover a fermentação mesmo em altas temperaturas. “Achamos que nossas leveduras possam resistir a temperaturas até maiores que 40 °C”, afirmou.

Os pesquisadores submeteram em setembro de 2008 o registro da patente de um fermento geneticamente modificado para produzir etanol em condições extremas.
 

Igor Zolnerkevic