Pesquisadores
do Instituto de Química (IQ), câmpus
de Araraquara, buscam aperfeiçoar a
produção de álcool a partir do
bagaço da cana-de-açúcar. Eles
investigam fungos que preparam o
bagaço para a fermentação,
selecionam as melhores leveduras e
criam métodos rápidos e baratos para
a indústria monitorar o fermento.
Pela importância econômica, seus
estudos foram selecionados para
participar do
Bioen (Programa de
Pesquisa em Bionergia), programa de
financiamento especial da Fapesp.
Parte dos
projetos selecionados pelo Bioen,
cujo objetivo principal é incentivar
pesquisadores em universidades e
empresas a desenvolverem a produção
de álcool de cana-de-açúcar, foi
divulgada no dia 4 de fevereiro.
Entre eles, está o projeto “Produção
de etanol a partir do bagaço de
cana: tratamentos enzimáticos,
ensaios microbiológicos para
avaliação da toxidez e tolerância
das leveduras a elevações de
temperatura e acidez do processo”,
desenvolvido pelos pesquisadores
Cecília Laluce, Karen de
Oliveira, Sandra Sponchiado e
Eduardo Cilli, do
Departamento de Bioquímica e
Tecnologia Química do IQ.
Desperdício – Atualmente,
no processo de produção de álcool a
partir da cana-de-açúcar, a
indústria brasileira aproveita
apenas o açúcar. Assim, dois terços
da biomassa, na forma de bagaço e
palha, são desprezados no processo.
Para transformar essa enorme
biomassa em álcool combustível –
etanol -, os pesquisadores buscam
técnicas apuradas que permitam tal
procedimento.
Segundo
Cecília, já existem métodos para
extrair etanol da celulose, a
substância principal do bagaço. Mas
eles ainda são ineficientes ou
caros. A celulose precisa ser
quebrada em moléculas menores para
que os microorganismos do fermento
consigam digeri-la e transformá-la
em etanol. Essa quebra da celulose
chama-se hidrólise. A hidrólise
convencional é feita com ácidos.
Infelizmente, a acidez é mortal para
o fermento.
Um método
recentemente desenvolvido nos EUA é
menos tóxico às leveduras, ou
fermento biológico. Ele utiliza
enzimas secretadas por bolores para
decompor o bagaço da cana. “O custo
desse processo, porém é bastante
alto”, explicou Cecília. Segundo a
docente do IQ, Sandra Sponchiado e
sua aluna Marina Marques estudam a
hidrólise do bagaço de cana por
preparações de fungos de baixo
custo.
Enquanto isso,
a pesquisadora de pós-doutorado
Karen de Oliveira desenvolve métodos
rápidos e simples para avaliar a
toxicidade dos componentes da
hidrólise de bagaço e o efeito deles
na atividade das leveduras.
“Desenvolver ensaios rápidos que em
15 ou 30 minutos dizem qual o estado
das leveduras é o que interessa para
a indústria”, contou Cecília. “Mas
antes disso, é preciso conhecer como
age cada tóxico em contato com o
microorganismo”, explicou.
O docente
Eduardo Cilli colabora analisando a
evolução do processo de hidrólise e
os produtos químicos criados durante
o processo. Outro obstáculo para o
aumento da produção de etanol é
controlar a elevação da temperatura
dos tonéis de milhões de litros onde
a mistura o bagaço hidrolisado
fermenta. “O fermento opera bem
entre 30 a 37 °C”, explicou Cecília.
“Passando disso, o álcool começa a
‘fritar’ os microorganismos do
fermento, dissociando suas
membranas”.
Os sistemas de
refrigeração são caros e difíceis de
controlar. Cecília e seus
colaboradores vêm criando linhagens
de leveduras capazes de promover a
fermentação mesmo em altas
temperaturas. “Achamos que nossas
leveduras possam resistir a
temperaturas até maiores que 40 °C”,
afirmou.
Os
pesquisadores submeteram em setembro
de 2008 o registro da patente de um
fermento geneticamente modificado
para produzir etanol em condições
extremas.
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