Unicamp envia ao MEC manifestação sobre reforma

Reunião do Consu na última terça-feira: conselheiros debatem a reforma
[31/3/2005] O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp enviou ao ministro da Educação Tarso Genro, na quarta-feira (30), documento com sugestões para a melhoria do anteprojeto da reforma universitária. Embora reconhecendo que a proposta apresentada pelo MEC representa uma oportunidade de aprofundar o debate sobre o ensino superior no país, a manifestação critica pontos do texto e defende a ampliação do prazo para uma discussão mais aprofundada do assunto.

“É preciso que este debate ora iniciado avance na sociedade brasileira, de tal modo que se possa chegar a um Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Ensino Superior no País”, destaca o documento aprovado pelo Consu (veja íntegra abaixo). O texto afirma ainda que o anteprojeto proposto pelo governo federal não chega a ser uma reforma universitária. “Tal como apresentado, o anteprojeto não contém uma estratégia para o efetivo desenvolvimento do ensino superior no Brasil”. O teor do documento resultou de um debate realizado em 15 de março, quando o Consu se reuniu extraordinariamente para analisar o anteprojeto do governo. Depois de examinar os 100 artigos distribuídos por 35 páginas, os conselheiros debateram o texto durante quatro horas.

Lei a íntegra do documento enviado ao MEC

Manifestação do Conselho Universitário da Unicamp sobre o “Anteprojeto de Lei da Reforma Universitária”

(Esta Manifestação refere-se à versão divulgada em 6 de Dezembro de 2004 pelo MEC.)

O Conselho Universitário da Unicamp (CONSU) reuniu-se extraordinariamente em 15 de Março de 2005 para analisar o Anteprojeto de Reforma Universitária apresentado pelo Ministério da Educação (MEC).

O CONSU considera que o debate ensejado em função do Anteprojeto encerra uma oportunidade que deve ser valorizada para o desenvolvimento do Ensino Superior no Brasil. Este debate era há muito necessário.

Preliminarmente considera o Conselho que o Anteprojeto em discussão não chega a ser uma “Reforma Universitária”. Coexistem no Anteprojeto pontos polêmicos ao lado de propostas importantes, estas especialmente no que diz respeito ao financiamento das Universidades Federais e seu acesso a um regime pleno de Autonomia, preconizado pela Constituição Brasileira, bem como a ênfase no Ensino Superior Público. Tal como apresentado o Anteprojeto não contém uma estratégia para o efetivo desenvolvimento do ensino superior no Brasil. Não se vislumbra como sua implementação trará melhoras, sejam qualitativas ou quantitativas ao sistema de ensino superior.

É preciso que este debate ora iniciado avance na sociedade brasileira, de tal modo que se possa chegar a um Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Ensino Superior no país. É, portanto, necessário ampliar o escopo da presente proposta, incluindo ali uma visão de futuro, metas e identificação dos meios para viabilizar uma mudança de patamar no Ensino Superior brasileiro. Um Plano desta natureza não pode deixar de considerar a necessidade urgente de ações de Estado que levem ao aumento da abrangência e ao melhoramento do Ensino Médio bem como ao desenvolvimento qualitativo do Ensino Fundamental. Instrumentos legais serão uma conseqüência natural de um Plano desta natureza.

O Projeto que resultará da elaboração de um Plano Estratégico precisa ter capacidade de se ajustar à evolução do sistema, possivelmente através de um sistema de revisões periódicas. Uma possibilidade muito concreta seria o acoplamento do Plano Nacional de Educação, revitalizado por procedimentos mais participativos e incluindo a comunidade acadêmica e a sociedade brasileira, a instrumentos legais dele derivados.

Pressuposto básico é a necessidade de se aumentar o investimento público nacional em Educação, em todos os níveis. Enquanto os países que conseguiram se desenvolver e alguns outros em situação de desenvolvimento similar à do Brasil dedicam em média 6% de seu PIB, em média, ao investimento público em Educação, no Brasil este percentual tem sido em torno de apenas 4%.

Reconhecendo que um Sistema de Ensino Superior tem na Universidade seu principal esteio, o projeto precisa reconhecer e destacar o compromisso fundamental da Universidade com a Educação, com o Avanço do Conhecimento e, portanto, com o desenvolvimento do país. O Anteprojeto do MEC falha neste ponto, superdimensionando o aspecto extensionista da Universidade com uma visão utilitária de curto prazo, sem valorizar adequadamente o compromisso da instituição universitária com os valores acadêmicos da pesquisa e da educação superior baseados na busca constante da excelência. O Anteprojeto apequena o conceito de Universidade historicamente construído pela humanidade. O impacto da Universidade na região e na sociedade será conseqüência inevitável de sua busca constante pela excelência na educação e na pesquisa. A capacidade da Universidade de dialogar com o conhecimento universal é, em muitos casos, uma das poucas oportunidades para trazer ao mundo regional os benefícios do saber humano.

Considerando-se que hoje no Brasil 70% das matrículas no Ensino Superior brasileiro estão em instituições privadas, é essencial que se estabeleçam instrumentos e critérios para uma efetiva regulação do sistema de ensino superior. Mesmo que se tenha chegado a essa situação o CONSU considera que não se pode assentar a estratégia nacional para a educação superior nestas instituições. Ao contrário, como é bem sabido, nenhuma nação chegou a ser desenvolvida sem ter uma forte base no Ensino Superior Público, tendo neste tipo de instituição a maior parte de suas matrículas. É urgente que o Brasil reverta a situação que se criou no país desde os anos 70, tomando medidas para o desenvolvimento acelerado do Ensino Superior Público.

Neste ponto a meta que consta do Anteprojeto de se atingir 40% das matrículas no sistema público em 2011 é extremamente tímida.
Aspecto fundamental que diferencia o Ensino Superior Público e Gratuito do Ensino Superior Privado no Brasil, ao lado da superior qualidade da educação oferecida, é a maior freqüência de estudantes das camadas menos favorecidas da população no Ensino Superior Público, demonstrada anualmente pelos dados das PNAD’s do IBGE. Portanto, numa estratégia nacional que busque maior inclusão social no Ensino Superior a prioridade precisa ser o desenvolvimento do setor Público.

O CONSU destaca a importância fundamental do instituto da Autonomia Universitária estabelecido no Artigo 207 da Constituição Brasileira sem quaisquer restrições. Autonomia é um valor fundamental para o desenvolvimento de universidades como locais centrais do pensamento, da educação e da geração e crítica de idéias. Autonomia exige um criterioso sistema de avaliação de desempenho ao lado de financiamento adequado ao cumprimento das metas que o Estado brasileiro considere fundamentais, estabelecidas num amplo processo de discussão com a sociedade e com representantes do mundo acadêmico.

Finalmente, considerando a relevância da construção deste grande projeto para o Ensino Superior brasileiro, o CONSU solicita que o cronograma atual, que prevê encaminhamento em breve do projeto ao Congresso, seja revisto para que o debate se estenda pelo período necessário para seu pleno desenvolvimento, incluindo todos os setores relevantes para o debate e de forma que todas as questões fundamentais sejam adequadamente encaminhadas.

Sala das Sessões em
29 de Março de 2005

Prof. Dr. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ
Presidente do Conselho Universitário da
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP