Paulo Henrique Amorim
Máximas e Mínimas
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. O primeiro ato do
presidente eleito José Serra, ao assumir,
provisoriamente, o Governo de São Paulo, foi
passar a pá em todas as verbas à vista e
reuni-las sob seu arbítrio pessoal, exclusivo.
. Como o presidente eleito
conta com o apoio irrestrito da mídia
conservadora (e golpista), especialmente a de
São Paulo, ele achou que ninguém ia perceber que
tinha tirado a autonomia das universidades
estaduais.
. Como ?
. Com dois mecanismos que
tinham a sutileza de um elefante:
. 1º. – nomear um
Secretario do Ensino Superior, que passaria a
mandar no Conselho de Reitores.
. 2º. – não deixar os
reitores mexerem nas verbas, cuja fatia mais
grossa provém de 9,57% da arrecadação de ICMS.
. Como Serra não se formou
nem em engenharia nem em economia na USP, para
ele tanto faz que a universidade paulista tenha
ou não autonomia.
. Qual é a estratégia de
médio prazo do presidente eleito ?
. Tomar conta do dinheiro
das universidades – e ele já começou a espalhar
na imprensa (?) que são universidades ineptas –
e colocar num mesmo bolo central, que ele possa
usar para a campanha da posse na Presidência em
2010.
. É só uma formalidade
assumir a Presidência em 2010, mas, mesmo assim,
vai precisar de dinheiro.
. A campanha publicitária
do Governo de São Paulo, para a felicidade da
mídia conservadora (e golpista), vem aí !
. Segundo a Folha de S.
Paulo de hoje, página C1 (clique
aqui para ler “reitores agora dizem não ver
risco à autonomia”), o Secretário da Fazenda
disse que o Governo pretende definir, “em
entendimento com os reitores, um regime adequado
de remanejamento de dotações orçamentárias, que
atenda às peculiaridades de sua organização”.
. Isso, a rigor, não
significa nada: muito menos respeito à autonomia
das universidades.
. Ou é possível imaginar
que os reitores sejam capazes de resistir a um
“entendimento” com Serra sobre como remanejar as
dotações orçamentárias ?
. Os reitores (clique
aqui para ler o que diz o presidente do
Conselho de Reitores) parecem usar uma tática
bastante interessante: pegar o Secretário da
Fazenda pela palavra e entender que a frase
ambígua – “em entendimento” – é uma garantia
indiscutível da autonomia das universidades.
. Acredite se quiser.
. Como na cratera do
Metrô, Serra ganha tempo, porque conta com o
apoio da imprensa – com a Folha de S. Paulo à
frente.
. Ele precisa esvaziar a
greve de estudantes e funcionários da USP.
. A própria Folha lembra
que o Secretario de Ensino Superior, José
Aristodemo Pinotti, disse, segunda feira:
“certos remanejamentos, que mudem dinheiro de um
item econômico para outro, precisam de
autorização do Governador.”
. No jornal de hoje,
quatro dias depois, Pinotti, explica que podia
ter “se expressado mal”, e que a providência
entraria em vigor em 2008.
. Quer dizer, em 2008 não
tem conversa: para pegar dinheiro do custeio e
comprar um astrolábio, o Governador (presidente
eleito) tem que aprovar.
. No caso do controle do
Conselho de Reitores, o presidente eleito
recuou.
. Isso não tem
importância. Era uma formalidade.
. O problema do presidente
eleito é que ele acha que as universidades de
São Paulo têm dinheiro demais.
. E ele quer controlar
esse dinheiro.
. E se Serra é o Serra que
se conhece, os reitores podem ter certeza: Serra
quer os 9,57% do ICMs (*) que hoje vão para as
universidades.
. E lá na frente, bem
depois da linha do horizonte, já se sabe o que
Serra e Pinotti querem (pelo que fizeram os
tucanos no poder): privatizar o ensino.
(*) - A divisão é assim:
5,2% do ICMS para a USP; 2,3% Unesp; e 2,1%
Unicamp. 9,57% do ICMS dão R$ 5,5 bilhões, com
base na arrecadação do ICMS de 2006. É uma
fortuna ! Dá para imaginar o presidente eleito
se conformar com a idéia de que três reitores
possam administrar R$ 5,5 bilhões, sem
consultá-lo ? E as universidades ainda ousam
propor aumentar isso para 11,6% do ICMS ...