Um grupo de oito ex-reitores da USP (Universidade de São Paulo) elaborou um manifesto contra o que chamam de "escalada de violência promovida por uma minoria que prega a desordem".
Os funcionários da USP estão paralisados desde 5 de maio por um reajuste de 6%, dado aos professores no início do ano. Em 8 de junho, eles invadiram a reitoria quebrando portas em protesto contra o corte de salários de mil servidores. Antes disso, já realizavam piquetes no prédio, impedindo a entrada de trabalhadores.
O texto, divulgado pela reitoria da universidade, foi assinado por todos os ex-reitores vivos da USP: Suely Vilela, Adolfo José Melfi, Jacques Marcowitch, Flavio Fava de Moraes, Roberto Leal Lobo e Silva, José Goldemberg, Waldyr Muniz Oliva e Helio Guerra Vieira.
Leia íntegra do manifesto:
Ex-reitores da Universidade de São Paulo, vimos manifestar nossa veemente repulsa à escalada de violência promovida por uma minoria que prega a desordem, arrogando-se pretensa representatividade da comunidade da USP. Externamos nosso apoio decidido à instituição no combate a esse lamentável estado de coisas. A rotatividade dos mandatos na reitoria, como em todas as funções de direção da universidade, não interrompe nossos compromissos perenes para com esta e seus valores permanentes. Orientados, cada um ao seu tempo, por diferentes prioridades, conforme os desafios específicos de cada gestão, nos unimos para reafirmar a convicção de que a USP é maior e mais forte do que os segmentos sectários adeptos da brutalidade, hoje lamentavelmente em evidência.
Desde sua fundação, esta universidade foi palco de grandes e legítimos movimentos pela liberdade política, pelos direitos individuais e sociais e pelo progresso da ciência, todos fundados em práticas democráticas de debate interno e interação com a sociedade. A USP teve papel decisivo na redemocratização do país e jamais tolerou a imposição de limites à manifestação do pensamento. A truculência das manifestações repetidas nos últimos anos se mostra tanto maior quanto menores a representatividade dos que a promovem e a legitimidade dos pretextos alegados.
As táticas da violência antidemocrática de hoje, praticada a despeito de os canais de comunicação permanecerem abertos, não diferem, na essência, dos atentados à liberdade cometidos pelo regime autoritário no passado. A tentativa de paralisar, pelo emprego da força bruta, serviços essenciais ao funcionamento da instituição e à assistência aos segmentos mais vulneráveis --como transportes, creches e refeitórios-- repete a prática sombria de intimidação que a esmagadora maioria desta comunidade uspiana sempre repudiou.
Por isso reafirmamos nosso apoio à adoção de medidas legais que ponham fim a essa escalada, assegurando à população do Estado de São Paulo, a quem esta instituição pertence, que sua grande universidade de pesquisa jamais se curvará à força da brutalidade e jamais se afastará de seus objetivos de promoção do desenvolvimento por meio da investigação científica, dos altos estudos e da produção cultural.